Seria o nosso primeiro Dia dos Namorados... Estávamos
tão apaixonados um pelo outro que mais parecia um namoro de - no mínimo -
três reencarnações passadas. Almas Gêmeas! Sabe aquela paixão roxa de
dar agonia e enjôo? Era a nossa! O Primeiro Amor - ETERNO - de Ambos.
Um exagero adolescente! Apenas quatro meses de namoro e já tínhamos em mente o
nome e sobrenome dos três filhos que teríamos depois de casados. Pode??? Ahhhh!
O Primeiro Amor Eterno é sempre assim... (rs!). Exatamente no dia 12 de junho
de 1981 faríamos quatro meses de namoro. Decretamos: ESSE DIA É TODO
NOSSO! Nada de aula, nem de ninguém... Só Love! Combinamos ir ao Cine
Veneza assistir “A Lagoa Azul” (o cúmulo da imoralidade para as mães
na época...). Censura reduzida de 16 para 14 anos. Agora, podíamos assistir.
Mas pra efeito de pai e mãe, o filme “Os Três Mosqueteiros Trapalhões” era
a pedida para o dia... Creia! Mas antes de irmos ao cinema, demos uma passadinha
nas Lojas Americanas - o nosso shopping na época - com direito a
beijo nas escadas rolante e tudo o mais... (como tive capacidade para tanto,
Oh! Deus...). Depois fomos sentar, lanchar e conversar. Tomamos um Milk Shake
de chocolate, um sanduíche de queijo e... Mais nada! Dinheirinho pouco, sabe
como é. Estudante na minha época meu bem, quando muito, só tinha no bolso a
passagem pra voltar para casa.
Enfim, nosso namoro era daqueles de dar enjôos mesmo. Eu confesso: Era um namoro super meloso e cheio de nhen-nhen-nhen. (uiii...) Era tanto do fricote que hoje tenho vontade de “me” dar uma surra... Pensar que ficávamos o tempo todo:
- Ei, “thuco-thucoooo”...
- Fala têtezinha... Meu “carocim de mulungu”
- Ah! Diz que me ama, vai...
- Você sabe que sim!
- Diz que me ama um “tantão” assim...
- Te amo bobinha! Um tatãããão assim... ÓÓÓÓÓ!!!
- Ô meu chiricuthico de Tête amar...
- Vem cá minha fofolete...
Ta booom! Parou, parou... Sentiram o clima né? Muita “passione” e muita frescura. Durante esses quatro meses de namoro tudo era motivo para se guardar. Ela tinha uma caixinha onde colocava tudo referente ao nosso “Eterno Amor”. Dentro dessa caixa ela guardava além dos nossos cartões e bilhetinhos amorosos, um montão de catrevagens. Coisas bizarras mesmo! Imaginem que ela chegou a guardar o primeiro chiclete “ploc” que lhe dei no dia em que nos conhecemos. E eu não estou falando somente da embalagem do chiclete. Falo também do chiclete mastigado, chupado e desbotado que ela guardou. Porcaria né! Mas na época, achei lindo. E tem mais, também guardou o primeiro palito de picolé comprado nas areias da praia de boa viagem. Se o picolé era da Ki-bom? Que nada! Era daqueles que soltava um corante medonho, deixando a língua roxinha, roxinha... Ótimo para beijar depois (rs!). Isso sem falar nas dezenas de figurinhas do álbum AMAR É... Uma camiseta (minha) suada; vários guardanapos e folhas de papel de caderno escrito assim: Tête e Thuco se amam... (exagerados!); fotos; lencinhos perfumados; papel de balas e de chocolates; ingressos (todos!) das nossas idas ao cinema... Enfim, um arsenal de coisas era guardado nesta caixa. Inclusive o próprio canudinho do Milk Shake que acabáramos de tomar no fatídico dia dos namorados... Era a nossa “caixinha do amor eterno”.
Bom, logo após o idílio romântico nas Lojas Americanas, fomos direto assistir ao filme “A Lagoa Azul”. Tipo: 14:30; pipocas quentinhas; primeira sessão; última fileira... A tarde estava só começando! Assistiríamos ao filme logo na primeira sessão, e somente depois, na outra sessão, começariam os amassos pra valer... Mas nem tudo sai como agente quer e planeja. Estávamos ainda no bem - bom da primeira sessão, quando:
- Peraí, peraí, peraí... Num me aperte muito não...
- Que foi thuco-thuco?
- Acho que a mistura do milk shake com a pipoca me fez mal.
- Como assim?
- Minha barriga tá fazendo um barulho esquisito. Parece um "tambor" de tão fofa...
- Ave Maria! Só não invente de fazer "essas coisas" aqui perto de mim...
- Se você me apertar muito, vou pei...
- Nem me fale essa palavra horrorosa... Que coisa mais nojenta! Eu, hein?
- E eu vou falar o que?
- Gases! Soltar gases, pronto... É mais bonito de se escutar. E vamos parar com esse assunto nojento...
- Parar porque Tête? Vou mentir é... Negar que estou com vontade. Que besteira...
- Besteira não. “Nojentisse” e falta de romantismo, isso sim! Coisa mais feia... Logo hoje!
- Tudo para você tem que ser belo, lindo e maravilhoso.
- Claro. Essas “coisas” a gente faz no reservado.
- E a culpa agora é minha é? Essas “coisas” dependem só de mim é? Ora!
- Então vá para o reservado e fique por lá até soltar todos "esses ventos"...
- Como é que é a história? Tu tá querendo dizer que eu tenho que ficar trancado no banheiro do cinema até o peido sair... É isso?
- Psiuuuuuuuu! Já te pedi para não falar essa palavra nojenta perto de mim... Fale baixo! Ninguém precisa saber que sua barriga tá ruim... Tente prender "essa porcaria" até o final do filme. Será possível!
- Então tá bom! Se é assim que você quer... Vou “me prendendo” até onde der. O que eu não posso e não vou, é perder o filme por causa de um p .... De um “pum”! Melhorou?
- Melhorou...
- E se eu prender o “pum” e a “tripa gaiteira” der um nó, feito na música de Luis Gonzaga? Aí é que eu quero ver...
- Eu não tenho nada a ver com a tripa gaiteira de Luis Gonzaga meu bem... Tenho a ver com você, que é meu namorado.
- Escute uma coisa! Se eu morrer por causa de um peido... Pode esperar! Venho peidar toda noite perto de você... He,he,he.
- Engraçadinho você! Num tenho medo de namorado “malassombrado” não senhor... Tenho mêdo é de um futuro marido – vivo - capaz de soltar um “pum” e eu morrer envenenada aqui, no meio do cinema.
- (PUMMMMMM!!!!) Eitaaaa! Desculpa tête... Saiu! Juro que foi sem querer... É que não agüentei prender mais!
- Meu Deus do céu... Socorro! Eu tenho o estomago fraco pra essas “coisas”... Vou vomitar!
- Calma! Não fique nervosa não meu amor! Espere... Eu já tô saindo.
- Ãgora dão adeanta bais dão... Zenta! Zeu borco... Tâ tôdu bundo olhando brá dós dois...
- Ê quê dem eu besbo tô aguendando bais essa gatinga...
- O bior é quê dêm um vósforo eu bosso riscar...
- Debois dêsse "beido" você ãindã me âmba?
- Glaro! Beu bem... Tê âmbo buinto, viu?
- Êndão vambos êmbora beu bem!
- Feliz Dia dos Dãnborados...
- Brá você dambém... TÊ ÃMBO!
É o que minha Avó sempre dizia: “Para quem ama, até o peido cheira bem”. E ela tinha razão... Na intimidade entre duas pessoas o que vale é a cumplicidade. Portanto, deixemos para lá os fricotes e apostemos no correr dos anos. O tempo faz os ajustes necessários.
Dedico esta postagem a minha ex-companheira e hoje, uma grande amiga: Ana Teresa Gusmão de Vasconcellos Lira - minha eterna Tête -