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terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O PENICO NOSSO DE CADA DIA.

Era um utensílio doméstico de grande utilidade para quem morava na zona rural e cidades interioranas. E creiam! Ter um penico no quarto - nos meus tempos de menino - era como ter uma chaleira, um bule ou uma panela na cozinha.... (Dhooootta! Que comparação medonha é essa?) Mas é verdade! Por acaso vocês pensam que banheiro dentro de casa era algo comum nas casas e sítios das décadas de 50,60 e 70? Era comum somente nos grandes centros urbanos. Nós atendíamos nossas “necessidades fisiobiológicas” (isso mesmo que você esta pensando agora, foi exatamente o que eu quis dizer tá!... Tendeu, né?) nas “casinhas” que ficavam no quintal (terreiro, muro...) fora da casa. Portanto, caríssimos e caríssimas, se um banheiro dentro de casa era raro, imagina um quarto com suíte? Nem pensar... Na verdade, sabe qual era a nossa suíte naquele tempo? Ah!!! Sabe não? Era um PENICO debaixo da cama, meu bem!
Saibam que na maioria das casas interioranas, o penico era uma tradição familiar, era moda mês-mo... Tinha sempre um ou mais membros desfrutando dos serviços penicais. Na minha casa, por exemplo, o uso do penico era algo transgeracional : filhos, pais e avós possuíam seus penicos. Eu e meus irmãos (quando crianças) tínhamos nosso peniquinho de plástico. Só a minha irmã mais nova é que tinha um “troninho”. Lembro que o da minha irmã mais velha era rosa (Juro! Dessa vez ela me mata!),do meu irmão era azul e o meu era verde. Agora o penico mais lindo do mundo era o da avó de um colega meu de infância. Era de porcelana e todo trabalhado. Quando ela morreu, virou um lindo vaso de flores, exposto em cima da cisterna da casa da mãe dele.
Hoje eu tenho um amigo chamado Nivaldo que coleciona Penicos de todo tipo, e segundo ele, os modelos são os mais variados possíveis. Tem penico de ferro, bronze, cerâmica, louça, alumínio, plástico, com tampa e sem tampa. Pintados á mão, desenhados e com frases belíssimas.... E até penicos com brasões em alto relevo para as famílias de mijões tradicionais. Os mais conhecidos são os penicos de ágata, em sua maioria, todos branquinhos com uma fina lista preta ao redor da borda (ver imagem). Agora falando sério... Geeeente! Que me perdoem àqueles homens que nunca mijaram fora do penico, mas urinar de forma eficaz e certeira - dentro de um penico - era uma ARTE para poucos ! Imagina você acordar no meio da noite, tudo escuro, se mijando, bêbado de sono e ainda ter que mirar e acertar o centro do penico... Sinceramente! Era um desafio da “mulesta” pra qualquer um, até mesmo para àqueles que tinham boa pontaria. E não adiantava reclamar! O primeiro jato quase sempre era fora do penico... Lembro de uma senhora que trabalhava em minha casa (ela tinha ódio de mim, e com razão!) que dizia sempre: “Isso é um cabaré da gota serena! Esse menino com seis anos ainda num aprendeu a mijar num penico... É só aprumar a “trouxa” e pronto! Mas não, mija no chão e nas paredes só pra me fazer raiva!“. E minha tia pacientemente ensinava : “ Segura primeiro no piniquinho e depois é que faz o pipi...” Ah! É? Tão fácil assim, mês-mo? sei... Para a mulher é sempre mais fácil... Sentou, aconteceu e pronto! Agora imagina para nós homens, segurar ao mesmo tempo o pijama, a alça do penico e o “bilau”, e ainda assim, conseguir urinar dentro dele. Tenham piedade de nós, Caríssimas!... Pois as mulheres nunca iram entender quão era difícil urinar em pé, sem respingar fora do penico.
E para finalizar minhas memórias penicais - ainda quando criança – Eu e Alcides de seu Joaquim Gomes achamos um penico velho de ágata, todo enferrujado, em um “munturo” (terreno baldio) perto de umas pedras que ficavam atrás da casa da minha avó materna. Daí tivemos a brilhante idéia de usar o tal penico abandonado como alvo para as nossas pontarias de “balieiras” ( badoques). Colocamos o penico no topo das pedras e começamos a atirar com gosto... Enfim, destruímos o pobre do penico abandonado. No outro dia descobrimos que o referido penico não era tão abandonado assim, e que apesar de velho e enferrujado, ainda tinha um dono. Só ficamos sabendo disso quando minha avó veio brigar conosco: “Que serviço danado foi aquele que vocês fizeram no URINOL de Dona Severina Tenga?” Em resumo, levei uma surra para aprender a não mais brincar com o penico dos outros... Eita tempo bom! E quantas saudades do penico enferrujado de Dona Severina Tenga.