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domingo, 24 de maio de 2009

OS ALMANAQUES DE PHARMÁCIA DO MEU AVÔ - Uma Literatura de Primeira -


Eu NÃO SOU do tempo da "PHARMÁCIA" com PH.... Mas tudo que se relaciona com Pharmácias e Drogarias Antigas me interessam e muito. Nasci numa família literalmente farmacêutica: Meu bisavô materno foi o primeiro farmacêutico da minha cidade natal e depois os filhos e os netos seguiram seu legado. Até meu pai que sempre foi um grande comerciante de estivas e cereais, se meteu com farmácia. Enfim, tudo isso é para deixar claro que esse universo farmacêutico me é muito familiar... E mais familiar ainda, são os ALMANAQUES DE PHARMÁCIA que meu avô colecionou durante anos. Lembro que ao se aproximar o mês de dezembro (período em que começava a ser distribuído os referidos almanaques), o meu avô Albino sempre organizava sua coleção para que os novos números que estavam por vir, se encaixassem bem d-i-r-e-i-t-i-n-h-o. E todo final de ano era o mesmo ritual: Trocar as caixas de papelão, colocar plásticos novos e colocar remédio anti-traça e naftalina em tuuuuudo. Eu e meu irmão ficávamos horas vendo todos aqueles Almanaques: Almanaque Sadol, Almanaque do Licor de Cacau Xavier, Almanaque Dr. Schilling, Almanaque d’A Saúde da Mulher, Almanaque Bristol, Almanaque Capivarol, Almanaque Bayer, Almanaque Cabeça de Leão, Almanaque Catedral, Almanaque Silva Araújo, Almanaque do Colírio Moura Brasil, Almanaque Elixir Brasil, Almanaque Elo Nosso, Almanaque Guaraína, Almanaque de Ross, Almanaque Silveira e o mais conhecido de todos: O Almanaque Biotônico Fontoura. O mais engraçado é que o meu avô lia para nós – sempre - as mesmas piadas, as mesmas adivinhações, as mesmas histórias e assim terminávamos por decorar um montão de coisas. Na minha cabeça, aqueles caderninhos eram poderosos e sabiam de tudo mês-mo! Aprendi nos Almanaques do meu avô que "a unha da mão cresce 04 vezes mais do que a unha do pé"; "que o músculo mais forte do ser humano é a língua"; "que alguns insetos vivem até um ano sem a própria cabeça" (Já imaginou uma muriçoca descabeçada?)... Aprendi à toa, é verdade. Mas o importante é que um dia eu soube que fiquei sabendo de algo que hoje não me serve pra nada (rs!)... Enfim, a tão famosa! A tão criticada! E tão perseguida "Literatura de Almanaque". Acho uma bobagem criticar a literatura popular dos Almanaques!!! Meu avô lia Sartre, literatura de cordel, gibis do tin-tin, almanaques e, sempre foi culto. Se por um lado o almanaque nos ensinou um montão de coisas fúteis, ele ensinou também novos hábitos de higiene, saúde e beleza. E de acordo com o historiador, Mario Luiz Gomes, em seu artigo científico: "Vendendo saúde! Revisitando os Antigos Almanaques de Farmácia", disponibilizado no site http://www.scielo.br, nos revela que os antigos almanaques de farmácia foram capazes de criar novos padrões de comportamento, usos e costumes. E outra coisa, alimentou histórias fantásticas de "enormes lombrigas" dentro de nós... Meu Deus!!! Morria de medo de pegar "amarelão" e terminar igual ao Jeca Tatu... Enfim, o Almanaque de Pharmácia fez parte da vida de muita gente. Fez parte de um tempo em que para tudo havia uma solução: Bastávamos seguir - a risca - o que dizia o almanaque, e pronto! Estávamos salvos.... Hoje nem os almanaques e nem o Brasil apontam tantas soluções assim e as farmácias também não são mais as mesmas. Elas estão hoje mais para as vaidades do que para as enfermidades humanas. Lembro que na farmácia de meu pai, entrava gente passando mal, desmaiando (revirando os olhos, dando birôlas e passamentos), menino chorando com braço quebrado, vomitando e se "obrando todim". Gente pintada de merthiolate, com gaze, algodão e esparadrapo espalhados pelo corpo, gente mancando, puxando uma perna, medindo febre com termômetro debaixo do sovaco, tirando pressão, pedindo fiado, comprando cachete, tomando soro na veia ou fazendo sei lá mais o que... E aquela cliente que vinha da zona rural (sítio goiabeira), freguesa antiiiiiiga com saia na canela e que todo mês vinha tomar injeção na... No músculo glúteo? E aquele cheiro de remédio? E o banco de madeira para jogar conversa fora ou recuperar os sentidos depois de uma Benzetacil mal aplicada? Na época não havia hospital na minha cidade, primeiro se passava na Pharmácia e depois é que se ia para um posto de saúde. Os fregueses que hoje freqüentam e/ou "passeiam" por uma farmácia, dão a impressão de que não precisam de absolutamente nada, que estão esbanjando saúde. Atualmente se entra numa pharmácia para comprar revistas, cartão telefônico e "jujubas"... No máximo, se compra uma camisinha. Geeeente! Onde está o clima das Pharmácias de antigamente? Até as balconistas tem cara de "aeromoças amestradas". Dá vontade de tirar uma sarro da cara delas e perguntar: Ô moça! Já chegou o Almanaque de 2009 do Biotônico Fontoura? E o do Capivarol? O queeeeee!!!! Como assim? Nem o do Elixir de Inhame chegou? Num acredito... Então tá! Diga pro seu gerente meu amor, que esta farmácia está incompleta e eu não volto mais aqui! Passar bem, meu bem... Dou as costas e pronto.

E para você que não sabe do que eu estou falando, explico: O Almanaque de Pharmácia era um livreto publicado anual e/ou mensalmente, dependendo do laboratório farmacêutico que o patrocinava e de sua estratégia publicitária. Tinha um formato de mais ou menos 13x18 e os textos e as ilustrações eram impressas em papel de segunda, bem “póbi” mesmo. Esses “livretos do saber” eram distribuídos gratuitamente pelas empresas e laboratórios em grandes tiragens, fazendo com que seus exemplares chegassem às Pharmácias e regiões mais distantes do país. Suas páginas continham piadas, charadas, calendários, fases da lua, dicas de saúde, receitas culinárias, cartas melodramáticas, jogo dos sete erros, caça palavras, calendário agrícola, horóscopo, santos do dia, histórias diversas, datas importantes e comemorativas, textos poéticos (contos, poesias, crônicas) e claro, PROPAGANDAS DOS REMÉDIOS. Nos Almanaques de Pharmácia você encontrava de tudo um pouco.Tinha para todos os tipos e para todos os gostos. Eles podiam ser ao mesmo tempo úteis, fúteis, tradicionais, modernos... Ou tudo isso junto! Me parece que o objetivo maior era o de responder sempre a todas as perguntas e curiosidades.

Meu avô falava que nas décadas de 30,40 e 50, alguns Almanaques vinham com um cordãozinho que servia para pendurá-lo na parede. Geeeente! O Almanaque era respeitado e tinha o seu valor no aconchego familiar, principalmente na zona rural. Ele era pendurado num lugar privilegiado: na sala ou na cozinha. O Almanaque para quem morava na roça, era o médico, o conselheiro, o humorista, o amigo, o agrônomo... Ele apontava soluções e cura para tudo. Vinha sempre acompanhado de sedutoras possibilidades de realização... Fico pensando o seguinte: Se o Almanaque de Pharmácia foi capaz de implantar novos hábitos, criar novos padrões de comportamento, usos e costumes... E se ele tinha realmente soluções e cura para tudo! Não seria o caso de pendurar no pescoço de cada parlamentar um desses Almanaques? Quem sabe não encontraríamos a cura para a falta de caráter e para a falta de vergonha.... Não custa tentar!

O Almanaque Biotônico Fontoura, lançado em 1920, foi criado (elaborado e ilustrado) por ninguém menos que Monteiro Lobato! Ele criou nas suas páginas o folclórico personagem Jeca Tatu, o caipira que fez tanto sucesso que apareceu também nos seus livros infantis.

"Numa casa de sapé

Lá na beira do caminho

com dois filhos e a "muié"

Mora o Jeca Tatuzinho.

No terreiro uma galinha

um galo velho e um leitão

e o quintal sem plantação

Jeca vive descansando

Nunca tem disposição

Passa o dia se espreguiçando

Diz que pro trabalho

Não tem vocação.

Numa tarde que chovia

Um doutor por lá passou

Vendo Jeca que sofria

Um remédio receitou

E lhe disse: meu amigo,

Não ande mais de pé no chão:

Sua doença é amarelão

Jeca comprou sapato

Prá família e prá a toda a criação

Dava gosto a gente "vê"

galinha de botina

e galo de botinão.

Quem passar pelo caminho

Fica logo admirado

Já não tem mais o ranchinho

No lugar tem um sobrado

Hoje em dia, o Tatuzinho

É o maior dos "fazendeiros"

Tem saúde e tem dinheiro

Sua história é uma lição

Prá quem anda de pé no chão

Sapato no pé
prá não "entrá" os "bichinho"
É a receita do
Jeca Tatuzinho".

A figura da mulher ao lado, segurando e/ou exibindo um frasco de Biotônico Fontoura era uma constante nas capas desse Almanaque. Pessoas de destaque no meio artistico figuraram nas capas do Almanaque Biotônico Fontoura.

Ainda segundo Mário Luiz Gomes, os Almanaques foram desaparecendo à medida que se sofisticavam as técnicas de propaganda e marketing. E dos milhões de exemplares lançados pelo Brasil afora, poucos restam. Representam, atualmente, testemunhos insubstituíveis de época, e um patrimônio comum a toda nossa indústria farmacêutica.

No Brasil - em 1887 - o Almanaque Pharol da Medicina, elaborado com o patrocínio da Drogaria Granado do Rio de Janeiro, juntamente como Almanaque do Dr. Ross – 1891 – criado para divulgação aqui no Brasil, foram os modelos pioneiros dos almanaques de farmácia. As pílulas de Vida do Dr. Ross, amplamente divulgadas pela propaganda radiofônica, bem como o Sabonete Ross, Talco Ross, Pasta Dentifrícia Ross, Quinina de Ross, entre outros... Eram presença constante nas páginas desse pioneiro Almanaque.

Lembro-me das capas com ilustrações e fotos diversificadas, sempre coloridas e exaltando a beleza feminina. E com o passar do tempo foram evoluindo gráfica e tematicamente. Chegando a fazer referência aos componentes culturais e históricos de cada época e região. E na maioria das capas havia um espaço reservado onde o dono da farmácia colocava o nome e o endereço do seu estabelecimento comercial.
E a quantidade de remédios esquisitos que apareciam nos Almanaques: Asardol, Phosphol, Hespiza, Sinolina, Gonolina, Becolino, Vermífugo Kraemer, Eczemol, Jalapa Composta, entre outros... Na verdade, eu adorava esses nomes esquisitos e diferentes. Quanto mais difícil era o nome, mas eu gostava. Decorava tuuuudo!!. E na maioria das vezes nem sabia o significado. O importante na época, era falar bonito. Foi no Almanaque Catedral que li pela primeira vez, aos oito anos de idade, a palavra Gonorréia. Li também que para curar a Gonorréia era preciso injetar uma substancia chamada "Gonolina". E como eu lia tudo e todos os Almanaques da coleção de meu avô, pouco me importava se o ano era 1940 ou 1974 ... Eu queria mesmo era ler e aprender. Daí certa vez eu disse para minha avó:

- Ô vó! Acho que preciso tomar uma injeção de Gonolina...
- Ôxe! Como assim?
- É que eu tô com Gonorréia!! E é das “brabas”, viu...
- O queeeeee!!! Ai meu Deus...
- Besteira vó, eu li que na terceira aplicação os sintomas da gonorréia desaparecem...
- MEU FILHO !!! Você ainda nem completou nove anos...
- Eu sei vó... Mas não precisa se preocupar não! É só uma gonorréizinha de nada...
-Pelo AMOR DE CRISTO JESUS!!! É por isso que você tá amarelo desse jeito...O que foi que você andou fazendo? HEIN!!! Me diga logo... Vou mandar chamar o seu Pai, AGORA!!!!
- Ôxente vó? Pra quê chamar meu pai?
-Pra lhe dá uma SURRA BOA! Porque eu não tenho coragem de bater em neto doente. Ainda mais com uma doença dessas...
- Vóóó!!! Ave Maria... Que foi que eu fiz???
-Você ainda pergunta é!!! Você ainda Pergunta?
- Eu juro! Eu juro! Dessa vez eu não fiz nada ... Só estou com desinteria! E a senhora ainda quer mandar me bater.....
- Ãh????

Enfim! Sentiu o drama né? Gonorréia e Diarréia para mim eram a mesma coisa... Do tipo irmãs siamesas, da mesma placenta e univitelinas.... E o pior é que minha avó ficou olhando torto pra mim durante uma semana. Pode?
A saúde e a beleza da mulher são o destaque principal nas páginas do Almanaque "A Saúde da Mulher". Os assuntos pertinentes ao bem estar feminino foram largamente explorados e enalteceram a vaidade e os sonhos do público feminino. Afinal de contas, era A SAÚDE DA MULHER que estava em jogo...
O Almanaque D' SAÚDE DA MULHER


O Almanaque CAPIVAROL


O Almanaque do ELIXIR PRATA


O Almanaque GOULART


O Almanaque ISA


O Almanaque do BRISTOL e o Almanaque de um Laboratório da DÉCADA DE 30


O Almanaque do Lab. VELMON e o Almanaque do LICOR DE CACAU XAVIER


O Almanaque CALCIGENOL e o Almanaque SILVEIRA


O Almanaque do Dr. SCHILLING e o Almanaque do COLÍRIO MOURA BRASIL


O Almanaque FOSFOTONI e o Almanaque ELO (da pomada Minâncora)


O Almanaque GUARAÍNA


O Almanaque da BAYER e o Almanach PIUMHY


O Almanaque ELIXIR DE INHAME


O Almanaque RENASCIM

terça-feira, 5 de maio de 2009

REVISITANDO AS CANTIGAS DA MINHA INFÂNCIA - Um Novo Olhar - Parte I

Eu ando meio preocupado com essa história do que é, e do que não é “Politicamente Correto”. Principalmente no que diz respeito as Historinhas e Cantigas Infantis. Sei lá, me parece que há um excesso de cuidados com a utilização das palavras e interpretações contidas nas entrelinhas de algumas cantigas infantis. E uma boa parte delas hoje em dia, são consideradas ofensivas e preconceituosas. Longe de mim questionar o mérito da lei que trata do preconceito e da discriminação. Mas... Assim mesmo, ouso lançar um novo olhar. Um olhar investigativo sobre essas cantigas tradicionais. Ao menos para revisitá-las com o bom humor que me é peculiar... E pra começar: Quem foi o desgraçado que Atirou o Pau no Gato ?
Eu? Não. Nunca tive Gato! “...Gato dá asma”. Já dizia minha avó. Apenas cantei a música quando criança. E cantei porque fui condicionado a cantar como todas as outras crianças da época. Nunca achei legal que atirassem o pau no bichano... Poxa, coitado do Gato! Agora, aqui pra nós... Que o Gato de Dona Chica, sofreu, Ah! Isso ele sofreu... Lembram? Quantas crianças não atiraram o pau no Gato e o Gato não morreu? Passei minha infância inteirinha com dó do Gato e da Dona Chica. Somente hoje, percebo o quanto Dona Chica foi omissa e perversa. Enquanto as crianças atiravam o pau no Gato dela, a mesma assistia a tudo e sempre ficava "admiradíssima" com o berro que o Gato dava. Sinceramente! Foi uma tremenda sacanagem de Dona Chica, né?... Indignei total! E quer saber de uma coisa, perdi completamente o respeito por ela, pronto. Vou chamá-la de Chica mesmo, e só. E outra coisa, o que me intriga é que até hoje não se sabe o motivo pelo qual atiraram o pau no Gato de Chica. Sequer consigo imaginar que trela o bichano teria feito para merecer tamanha maldade... Caríssimos/as!!!! Onde estava a sociedade protetora dos animais que não viu isso? Será que não existia nenhum movimento em defesa dos felinos na época? Enfim, talvez esteja me preocupando á toa, né verdade? Pois a essa altura do campeonato o crime já prescreveu e a insensível da Chica não tava nem aí pro Gato dela... O pior de tudo, caríssimos/as! É que acho essa estória muito mal contada e cheia de Mistéééérios.... Primeiro, que o Gato miasse, ainda vá lá! Agora, berrar? Tenha dó!!! Penso: Será que o berro quem deu foi Chica? E num é que seria bem empregado que o pau tivesse batido na cabeça dela pra ela deixar de ser ruim.... Eitaaaaaa! Menos Dhotta, menos. E lá vou eu querendo mudar a estória. Bom, vou tentar me deter apenas aos fatos ...
Então, se pararmos para analisar a música, vamos perceber claramente nas entrelinhas que o perfil da pessoa que um dia atirou o pau no Gato, é o de um quase “Serial Gaticida”, e o que é pior, extremamente gago. Sua gagueira é tanta que nem na letra da musica conseguiu disfarçar. Outra coisa, é um homicida em potencial com intenções claras de morte, próprias de uma mente assassina. Como diz na musica: “Atirei o Pau no Gato, mas o Gato não Morreu”. Está claro para mim que ele atirou o pau no Gato com a intenção de matar. E percebe-se pelo berro: Miaaaaaau!!! Que a paulada foi violentíssima. No entanto, algo me deixa intrigado. Como uma paulada tão violenta não conseguiu ser fatal? Ou o acusado era principiante na vida do crime e sequer sabia usar uma arma branca ou o Gato tem sete vidas mesmo, e acabou. Agora, a culpada disso tudo sabe quem é? É CHICA!!!!( Vixe! me empolguei... E num é que tô com ódio dela mesmo, kkkkkkkkk). Acho inclusive que ela foi cúmplice nisso tudo. Caríssimos/as! Ela se omitiu ao ver o frustrado, quase assassino, dando a paulada no Gato. Ao invés de impedir a tentativa de homicídio ou ajudar o Gato, NÃÃÃÃO!!!! Chica apenas admirou-se com o estranho berro do gato. Posso estar sendo leviano, ”Senhoradobompartomeperdoe”, mas eu tenho quase certeza que a Chica tinha um amante, e que esse amante era o inexperiente e gago maníaco... - Que vizinha do maníaco que nada minha mãe!!!!! - ( minha mãe esta ao meu lado dizendo pra não ser tão cruel com Chica, pois ela podia ser apenas vizinha do quase assassino). Para mim, era CÚMPLICE E AMANTE, SIM!!!! Bom, chega de tantos questionamentos. E para você, Quem atirou o Pau no Gato?
E o Boi da Cara- Preta? Quantas vezes essa “cantiguinha” foi entoada para que nós dormíssemos. Famílias inteiras cantavam (e ainda cantam) essa música com a intenção de acalmar as crianças. Quanta ingenuidade das pessoas que tomavam conta de nós!! Eu fico a imaginar o que não deve ter passado nas nossas cabeças naquela época... Imaginem! Uma criança desesperada, louca querendo dormir e alguém cantando no pé do ouvido que um Boi da Cara-preta viria para lhe pegar. E o que é pior, sem a criança ter feito absolutamente nada! Aliás, minto! O Boi da cara preta viria pegar as criancinhas simplesmente porque elas tinham medo de Ca-re-ta. Faz sentido um troço desses? Sinceramente! Qual o problema de ter medo de Ca-re-ta? E porque as crianças tinham que ser punidas e ameaçadas por ter medo das tais caretas? Eu acho que o Boi da Cara-Preta devia pegar quem tava cantando a música, e não a coitadinha da criança.
Enfim, acho que dormíamos de tanto medo e não pelo acalanto da melodia. E vai que o Boi pega mesmo... Fico pensando, será que a pessoa que compôs essa música foi uma daquelas babás que rouba criancinhas? Ou teria sido uma mãe problemática com depressão pós-parto? E até mesmo uma tia solteirona e preconceituosa, porque não? E Vai saber... Eu só sei que hoje em dia essa música NÃO é vista com bons olhos pelos movimentos de igualdade racial. Até porque o boi não precisava ter a cara preta, podia ter uma cara branca, malhada, marrom... Iria amedrontar do mesmo jeito. Pois só a cara de um boi fazendo “mooooon”, com dois chifres na cabeça, para mim, já é assustador.
Geeeente! E aquela outra cantiga de ninar: “Nana, nenê, que a CUCA vem pegar. Papai foi pra roça, mamãe pro cafezal...” Isso também é para acalmar é? É mesmo! Quer dizer que o pai tá na roça, a mãe no cafezal e a criança sozinha em casa? E ainda é pra CUCA vir e pegar a criança? Sei... Realmente não dá para entender. Mas quer saber! Se fosse comigo? Eu iria adorar. Nunca tive medo da Cuca. Sempre achei a CUCA engraçadíssima. Meu sonho na época do Sítio do Pica Pau Amarelo (70/80), era ter um cabelo de “roqueiro” igual ao dela. O queeee? Vocês nunca repararam nos cabelos da CUCA!!! Pois saibam que eram lisos, fio reto, na cintura e sem chapinha. Iguais aos dos roqueiros da década de 80? EU NÃO ME CONFORMAVA!!! Como é que ela tinha um cabelo igual ao do Bruce Dinckinson do IRON MADEN, e eu NÃO... Êpa! Parou, parou, pa-rou! Não dispersa Dhotta! E lá vou eu - de novo - mudando o rumo do texto.
Temos que revisitar as antigas canções infantis e perceber o que há de preconceituoso e violento nelas. Mas sem o "exagero" do politicamente correto. Sabe aquela criancinha rica,  linda e loira  cuja mãe se preocupa até com os sonhos dela?  Isso não quer dizer nada!  Eu tenho uma “conhecida” que criou seu único filho (do pré-natal ao berço) escutando somente músicas clássicas e mantras indianos... E hoje, de vez em quando esbarro com o tal filhinho da minha “conhecida”. E acreditem! Atualmente ele é um andrógeno, quase um sósia do Marilyn Manson. Ele tem uma banda de Heavy Metal / Industrial, no estilo do Stabbing Westward e do White Zombie. Portanto, meu bem! O politicamente correto nem sempre funciona como gostaríamos.
 Já aquela historinha de que o Cravo brigou com a Rosa embaixo de uma sacada... Para mim é mais um caso típico de violência doméstica e intrafamiliar envolvendo casais. Principalmente se essa briga ocorreu embaixo da sacada de uma casa. E como eu NÃO compactuo mesmo com essa história de que “entre briga de marido e mulher, ninguém mete a colher”. Eu vou meter a colher sim senhor, seu Cravo! Quem já viu bater na coitada da Rosa até ela ficar despedaçada. Isso não se faz! A Lei Maria da Penha existe para proteger as inúmeras “Rosas” que são espancadas e/ou despedaçadas.
Já na segunda estrofe eu vejo uma típica chantagem emocional, daquelas “beeeeeem” mixurucas. O Cravo inventa que está doente para que a Rosa vá visitá-lo, volte para casa e simplesmente o perdoe. Enfim, não convencendo a Rosa com o seu teatrinho “quase” rodrigueano: “Perdoa-me por te despedaçar”, o Bofe finge um DESMAIO... Pode? E o pior é que a boba da Rosa acredita e desaba no choro. Ah! Me poupe Rosa!
 Alguém já escutou falar que os Escravos de Jó eram todos gays? Eu mesmo já escutei! E para acabar com essa duvida, resolvi pesquisar para saber se o tal jogo de “CAXANGÁ” era na verdade uma performance erótica gay ou não. Geeente! Eu descobri que NÃO existe nada de homoerotico nessa história. A palavra Caxangá tem vários significados, mas nada de brincadeiras eróticas. Caxangá pode ser um crustáceo (do tipo siri, caranguejo, guaiamum.); uma avenida na cidade do “meu” Recife; um chapéu de marinheiro ou até uma derivação indígena: Caxangá vem de “caá-çangá”, que significa “mata grande”.
Definitivamente! Caxangá não é jogo gay coisa nenhuma e nem os escravos pertenciam a Jó, aquele personagem da Bíblia que perdeu tudo (inclusive os escravos), ficando apenas com a fé. Bom, espero ter clarificado um pouco essa história... Agora, aqui pra nós! O fato pode até ter sido esclarecido, mas que a letra da música é sugestiva e “meio” gay... Ah! Isso é verdade. Não vou mentir... Se prestarmos bem atenção, veremos c-l-a-r-a-m-e-n-t-e que no “Jogo do Caxangá” existe um movimento suspeito de “tira e bota" para o tal do Zambelê entrar e/ou ficar, que ninguém explica direito. E o que danado é o Zambelê ? Vai saber... E sem falar na história de que Guerreiros com Guerreiros fazem zigue, zigue, zá... Enfim! Se os Escravos de Jó gostavam de jogar Caxangá; se deixavam ou não o Zambelê entrar e se os Guerreiros saíam por aí ziguezagueando... O que tem demais nisso? Nada! Cada um se diverte como pode e gosta. E salve, salve a “Liberdade” dos Escravos de Jó!!
Eu me sinto revoltado ao comentar o doloroso quadro de intolerância e violência policial presente em algumas histórias e canções infantis. Como por exemplo, na música do "Pai Francisco entrou na Roda." Como é que se prende alguém, cujo único delito foi entrar numa roda e tocar violão? O que teria feito “Pai Francisco” para provocar tamanha raiva no delegado? Eu fico pensando: Será que “Pai Francisco” na verdade, era um Pai de Santo, dono de um terreiro de macumba? E o delegado um daqueles evangélicos fervorosos? Mesmo assim! Em nada justificaria tamanho abuso do poder da policia. A não ser que Francisco tivesse sido um pai que deixou de pagar a pensão dos filhos... Mas acho que não. Naquele tempo ainda não existia o Direito à Pensão Alimentícia e muito menos exame de DNA. Mas o pior ainda está por vir. É que quando “Pai Francisco” volta da prisão - e para nossa revolta e constrangimento – volta todo se “requebrando, igual a um boneco se desmanchando...” Pensar o que sobre isso? No mínimo, o coitado do “Pai Francisco” levou uma surra de quebrar os ossos dentro da prisão. Se não tiverem feito outra coisa pior com ele. Sei lá, tipo... Foi torturado e/ou abusado sexualmente por outros presos. Enfim, essa cantiga nos revela mais “um” dos retratos da falência do nosso sistema prisional. Onde já se viu prender uma pessoa cujo unico crime foi tocar violão! Tã-ram-ram-tão-tão...
E o coitadinho do Samba Lelê ? Uma atrocidade o que fizeram com o ele. Sinceramente! Eu fico indignado mais uma vez com tamanha violência. O pobre do Lelê devia ser apenas um garotinho que dançava samba. Mas que era violentamente explorado por algum adulto desalmado.
Caríssimos e caríssimas! Percebam o drama desse garoto: Primeiro que tudo, o Lelê estava doente e sendo obrigado a sambar, mesmo com a cabeça quebrada. E o que é pior, sob a ameaça de ser espancado com dezoito palmadas. Uma barbaridade! Concordam comigo? Por onde andam os defensores dos Direitos Humanos? E o Estatuto da Criança e do Adolescente? Agora indignei total! Recuso-me a comentar o restante da música e pronto. Ponto final.