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terça-feira, 1 de março de 2011

DESMANTELO SÓ PRESTA GRANDE!


Quem passeia por aqui já sabe... Eu adoro contar umas históriolas da minha vida, da minha terra e dos meus amigos. Também, depois de quatro décadas habitando esse mundão de meu Deus... Hummmmmm! Pudera. Tenho histórias pra fazer inveja a Sherazade meu bem. Umas alegres, espirituosas, hilárias e tal. Outras tristes, jururus e sorumbáticas. Mas a história que vou contar hoje é cheia de nojentisse e porcaria... Que foi? Tá olhando assim pra mim por quê? Também sei contar imundices... De vez em quando tiro umas assim, do gênero, lá do fundo de meu baú catrevagístico. E como minha memória é de elefante, daí me acabo nas minúcias...

... Foi com 14 anos que deixei minha terra Natal (Itapetim) e vim pra Recife estudar. Finalmente! Juntar-me-ia aos meus outros dois irmãos que já se encontravam por lá. No dia da minha partida fiquei de levar comigo, por insistência de minha mãe, a empregada lá de casa: Lucinha. “Coisas” de mãe zeloza, sabem como é. Enfim, o ônibus pinga-pinga da finada “Leão do Norte” com destino à Recife, sairia às 10:00 da manhã. Tudo pronto. Eu feliz, meus pais confiantes e Lucinha com cara de enterro... Perguntei:

- “Quéquitu” tem Lu?
- Tô cum medo de vomitar e me cagar todinha dento do “ôimbo”.
- Ô mãããe!!! Pelo amor de Deus venha cá.

Então minha mãe – calmamente - explicou que ela era dada a uns enjôos e, “às vezes”, tinha desarranjos intestinais quando viajava de ônibus. Mas que eu não me preocupasse: “Era tudo psicológico”. Daí minha mãe me deu uma cartela com 12 comprimidos de Dramin, caso ela enjoasse, podia dar. Acreditei né! Minha mãe falou, tá falado. O ônibus partiu. Cadeira 13, janela (sentei!). Cadeira 14, corredor... Lu, não quis sentar. Trocamos de cadeira. Olhei pra ela, tava quieta. Quase uma estátua sentada, só batia os olhos e o coração. Estranhei uma coisa, na mão esquerda ela segurava uma chave de metal, e na outra, um punhado de casca de laranja cravo. Isso sem falar na garrafa de álcool enrolada num pano e presa nas cochas.  E abusada, disse-me: “Sempre viajei assim, tá!”. E era um “cheira-cheira” sem fim nas cascas de laranja que dava agonia. Sim! Outra coisa, falou também que havia colocado um esparadrapo no umbigo em forma de cruz. Juro! Foi aí que comecei a ficar com medo dos “pantim” de Lucinha... Mas não deu vinte minutos de estrada, Lucinha começou a fazer careta, “inguiar” e por a mão na boca. Pronto! Assim começou o maior espetáculo do Vale do Pajéu. O sol de quase meio dia esquentava o juízo dos passageiros e Lucinha lá, “inguiando” a cada dez minutos. Um tormento danado... Tadinha! Franzia a testa e lá vinha a náusea do estomago pra boca e depois, da boca para o estomago. Não pensei duas vezes, Dramin nela! E assim foi... A cada ameaça de vômito, um Dramin. Como assim!? Efeito colateral, princípio ativo, posologia... E eu lá tava interessado em contra indicação! Pra que é que serve bula de remédio numa hora dessas? Pra nada. Minha única preocupação era chegar ao Recife com Lucinha viva. E pra quem não sabe, são 424 km de Itapetim a Recife. Sentiram o drama né?  E haja estrada, poeira e enjôos.
Então caríssimos/as... Nesse ínterim, Lucinha já tinha colocado a cabeça pra fora da janela umas trinta vezes e... Nada! Só fazia “munganga”, “inguiar”, e cuspir o Dramin. Mas não era problema, eu dava outro Dramin na mesma hora. E nessa brincadeira a cartela de Dramin tava na metade. Os outros passageiros, incomodados, já haviam percebido a “marmota” nas cadeiras 13 e 14. Apóbi” de Lucinha já não tinha mais cor e nem força pra segurar o vômito. Foi ai que ela me disse:

- Acho que vou dar um “passamento”... Minha cabeça e minha barriga tão rodando. Num tô enxergando mais nada.

- Pelo amor de Deus! Acorda Lucinha... Pare já de revirar os olhos. Você não pode morrer agora! Espere pelo menos chegar numa rodoviária...

Assim que acabei de dizer isso... O ônibus deu um “solavanco” e a coitada não segurou mais nada. Soltou as cascas de laranja, a chave e o vômito. Fez o serviço ali mesmo... Foi vômito pra tudo quanto era canto. E o que é pior, em cima dos meus pés. Daí aquela coisa nojenta começou a escorrer por debaixo das poltronas, depois foi abrindo um caminho visguento pelo piso esborrachado, pelas frisas de metal e exalando um mau cheiro terrível. Porcaria né!?... A essa altura, o motorista e os passageiros estavam putos da vida com a presepada de Lucinha. Mas fazer o que? O negócio era esperar pela rodoviária mais próxima e pronto! Enquanto isso eu e Lucinha, “mortos de vergonha”, permanecemos em pé ao lado das poltronas vomitadas. Claro que todos e todas olhavam pra gente com cara de pena e nojo. Mas tem sempre um “inxirido” que tira onda com a desgraça alheia: “Vai ver ela ta recebendo um “santo” e não sabe...”. E como quem diz o que quer, escuta o que não quer. Disse-lhe: “Ela não é mãe de santo não, viu moço. Mas eu, pra receber uma pomba-gira e rodar a baiana com a sua cara, é daqui pra li”. Calou-se! Nessas horas eu arranjo coragem até pra mamar em onça meu bem...
Geeeeente! Essa estória ainda não terminou e vocês não sabem da missa um terço... A “pop star” dos ônibus intermunicipais – Lucinha – começou a cruzar as pernas e dizer que estava com uma “gastura” no pé da barriga. Já imaginaram né? Pois é! O excesso de Dramim já tinha começado a fazer o efeito contrário. Daí ela começou a suar frio e ter arrepios a cada cinco minutos. Fez das tripas coração pra segurar a vontade, mudou de pensamento, buscou ajuda nos santos e... Até que enfim! Uma rodoviária. Descemos feito dois loucos. O problema é que numa hora dessas, parece que o danado do intestino adivinha a proximidade do banheiro. Sente quando a privada tá ali, a espera... Aí tem jeito não! Tudo que estava preso começa a se soltar e a vontade triplica. E foi assim que o desmantelo aconteceu... Não deu tempo e Lucinha acertou tudo, menos a privada. Por nossa Senhora dos Remédios, eu juro! Não ficou um lugar para pisar nem encostar. Papel higiênico?!  Quem já viu papel higiênico em rodoviária de interior, me digam? E mesmo se tivesse dez rolos de papel higiênico e mais duas dúzias de papel de enrolar pão, não dariam conta de limpar o banheiro da rodoviária. O jeito foi apelar para as meias, pois a calcinha já era. Enfim, o estrago foi tão feio que tive que abrir as malas e tirar roupas limpas, tanto para mim, quanto para ela. Quanto ao o banheiro? Ah! Só vassoura, pano de chão e pinho sol dava jeito. E pra completar essa estória... Um desses cachorros de rodoviária resolveu sair cheirando os fundose os fundo dair cheirando meus pr uma roupa limpa para ela e para mim. da saia de Lucinha até o ônibus, pode um negócio desses. É por isso que eu digo: Desmantelo só presta grande meu bem... E tenho dito!

Dedico este post ao Dilberto L. Rosa e a "todos e todas" que sabem apreciar uma boa crônica sem intimidar-se.