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domingo, 20 de setembro de 2009

BALAS "SOFT" - A SERIAL KILLER DE CRIANCINHAS.

Eu sou bastante suspeito para falar de guloseimas infantis. Sejam balas, “confeitos”, pirulitos, chocolates, chicletes... Primeiro que fui uma criança “perigosamente” gulosa e gordinha. E segundo, fui criado num paraíso de “Doces e Brebotes”. Meu pai foi comerciante e dono de mercearias que vendiam tanto no grosso, quanto no varejo. Sentiu o drama né? Eu vivia cercado de tudo, mas só tinha olhos para os doces. E lembro com saudades das BALAS “SOFT”.... Eram deliciosas, porém traiçoeiras, é verdade. Existiam nos sabores abacaxi, limão, cereja, tangerina, morango, uva, café e caramelo (não lembro se tinha mais algum sabor além desses... ). Essas balas revolucionaram o mercado das guloseimas infantis. Virou uma febre no final dos anos 70 e logo depois se estendeu por anos a fora. Redonda, escorregadia, cores vibrantes e de sabor iniguálavel. Foi altamente desejada por milhares de crianças e adultos, mas também muito perseguida por mães zelosas e assustadas. Criou-se um mito de que as Balas “Soft” eram contra-indicadas para o público infantil. Acho que as próprias crianças não deram muita “trela” para esses boatos, tanto é que as Balas “Soft” continuaram adoçando, encantando e engasgando muitas “criancinhas indefesas”. Atualmente não se produzem mais Balas Soft, elas desapareceram do mercado no final dos anos 90. Depois surgiram algumas balas similares com o mesmo formato, mas o sabor já não era o mesmo. O que restou na verdade foi apenas o Mito: “SOFT” – A bala assassina de crianças.
Tem quem afirme que o Mito construído em torno da Bala Soft é a mais pura verdade... Sério! Diziam até que a danada, de tão gostosa que era, primeiro viciava e só depois é que... MATAVA! A “Desciclopédia”, por exemplo, nos trás a informação de que as Balas “Soft” possuíam o diâmetro exato e cientificamente comprovado para o fechamento das traqueias. E acrescenta mais ainda, a sigla SOFT quer dizer: Super Objeto Fechador de Traqueias. Eu também cheguei a escutar horrores dessa bala quando criança. Fiquei sabendo por minha “preocupadíssima tia” que elas tinham sido projetadas – exclusivamente – para exterminar as criancinhas gordas e gulosas da face da terra... Pode? Boba essa minha tia, não? Pensar que gordinhos gulosos - porém inteligentes - cairiam nessa... Nuuunca acreditei! Sempre me engasguei! E continuo aqui no planeta terra. Vivo até hoje! É isso aí minha tiaaa: Sinta-se orgulhosa, viu? Porque EU sobrevivi ao extermínio promovido pelas Balas Soft.
O mais engraçado é que tanto as crianças quanto os adultos - apesar de todo esse boato – não podiam viver sem colocar uma Bala Soft no céu da Boca. Era incrível! Acho que só nossas mães entravam em pânico e nos enchiam de estórias e recomendações. No começou era assim: “Mastiga bem essa bala antes de chupar, viu ?”; “ Cuidado! Esta bala é perigosa, tem que comer partida ao meio..”; “ Não vá pular com a bala na boca que é para não se engasgar”... E depois, já em pânico: “Você esta proibido de colocar essa bala na boca, tá me ouvindo?”; “Não aceite essa bala de ninguém, principalmente a roxa, que é a que mais mata criancinhas”; “Não chupe essa bala! Ela é pior do que um pedaço de vidro. Vai ficando fininha, fininha e depois corta sua laringe...”; “ Você tá lembrado da loira do Banheiro? Aquela que assombra todo mundo, lembrou? Pois saiba que ela morreu engasgada com uma dessas balas, viu?”... E foi daí pra pior. Algumas mães chegaram a proibir a venda dessas balas na frente das escolas. Pobres mães zelosas, mal sabiam elas que nós engolíamos essa bala em tudo quanto era lugar.


Eu perdi as contas de quantas vezes engoli e/ou me engasguei com essas balas. Eu era guloso mesmo, às vezes eu colocava na boca 05 balas de uma só vez. Queria sentir o sabor de todas elas misturadas... Loucura né? Bom, dentre todas as vezes que me engasguei com uma Bala Soft, a pior aconteceu na saída da escola. Eu e meu primo betinho (de Mazé de João Ricardo) só andávamos correndo. Então saímos feito dois loucos, do tipo: “Vamos ver quem chega primeiro na calçada da Igreja? 1,2,3 e jáááá ! Isso cada um correndo com uma Bala Soft na boca, é claro. De repente eu parei de correr. Havia engolido a bala, e de quebra, parecia que as amígdalas tinham ido junto também. Tentei forçar a bala para ver se ela saia do canto e nada. Entrei em total desespero e tornei a correr... Só que desta vez com as mãos para cima e com ares de estabanado. Meu primo me vendo gesticular feito louco, voltou correndo ao meu encontro. Eu já com os olhos arregalados apontei para minha garganta. O máximo que eu conseguia dizer era: Uuuuuuuur, uuuuuuuuur... E de repente meu caríssimo primo começou a rir de mim. Foi acometido de súbito por um daqueles ataques de riso insano. Riu tanto que esqueceu da Bala Soft que também tinha dentro da boca e... Engasgou também. Pronto! Agora lascaram-se os dois... Eu estava sem fôlego e já tinha começado a ver luzes coloridas piscando, algo meio psicodélico... Doidão mesmo! A nossa sorte foi que seu Joãozinho Fotógrafo vinha passando e viu a cena. O “santo homem” enfiou o dedo na minha goela e nada. Depois chegou seu André Bitu para ajudar. Então os dois começaram a dar socos nas nossas costas até as “balas assassinas” descerem goela abaixo. Nossa! Nunca apanhei tanto, quase fiquei com um “pobrema” na coluna pro resto da vida... Enfim, fomos salvos da morte. E não pensem que isso nos serviu de lição. Pois em pouco tempo lá estávamos nós - correndo novamente - cada qual com sua Bala Soft enfiada na boca. Vai entender?
E lá vai mais uma estória das Balas Soft... Tive um amigo de infância que possuía a estanha mania de estudar, “brincar”, rezar e até comer... Adivinhem aonde? Trancado no banheiro da casa dele. Por pouco não fixou residência por lá... Portanto, “Fazer côco na casa do P e d r i n h o????” Nuuuunca meu bem!!! Se existia um local sagrado para ele dentro de casa, era lá, junto ao chuveiro, ao vaso sanitário, ao bidé... E num desses domingos de Páscoa dos anos 70, passei em sua casa para irmos juntos à confissão comunitária das crianças e adolescentes. Como de costume, levei comigo um saquinho recheado de BALAS SOFT. Chegando lá, meu amigo ainda ia entrar no banho. Daí ele colocou “duas” balas Soft de uva na boca e entrou no banheiro com uma revista de sacanagem em baixo do braço... Geeeeeeente! Não deu cinco minutos e o “rebuliço” tava feito. Meu amigo começou a gemer e a gritar – engasgadíssimo – com as balas assassinas presas na garganta e eu do outro lado da porta fiquei sem saber o que pensar. A principio achei que ele estivesse tendo sessões continuas de orgasmos múltiplos e/ou sequenciados a cada seis segundos... Depois é que fui entender que se tratava de gritos de morte. Então corri desesperado até a cozinha e fui chamar alguém para acudir antes que ele chegasse a óbito... Mas pra que eu fiz isso? Em poucos segundos veio pai, mãe, irmã, empregada, avó, dois primos e o cachorro. Nããão!!! Vocês não têm ideia do tamanho do vexame que ele passou. E num é que arrombaram a porta do banheiro e ele tava lá - roxinho-roxinho - completamente NU! E mais, a revista de sacanagem estava aberta, próximo ao bidé... Sinceramente! Eu concordo, é muito trauma para um pré-adolescente: 1) Saber que “quase” morreu humilhado por uma Bala Soft (e de uva...) entalada na garganta; 2) Que foi socorrido "pelado" no chão do banheiro por toda sua família; 3) Descobrir que sobreviveu sem a mínima possibilidade de ser feliz um dia, pois terá que encarar a mãe e a avó para o resto da vida; 4) Ser considerado um adepto inveterado do “onanismo” aos 11 anos incompletos... Enfim, se tivesse acontecido comigo naquela época, não teria a menor dúvida: Preferia ir ao encontro do meu “Glorioso São Pedro das Lajes”! E para finalizar essa traumática história... Bom, meu amigo me culpou duplamente. Uma por ter trazido as “balas assassinas comigo” e a outra por ter feito um verdadeiro escarcéu, chamando até a última geração de sua família para vê-lo pelado. Já entendi tuuudo... Querem saber se me senti culpado, é isso? Claro que NÃO! Fui eu por acaso quem o obrigou a chupar a bala assassina? E ele queria o que? Morrer engasgado e só depois de alguns anos abrirem a porta é? Me poupem...

PS: Sim! Ainda fui me confessar com o Padre (era o Pe Diniz, na época). Daí falei tudo, contei tudo mesmo e fui perdoado... Amém! Depois passei na mercearia de meu pai e peguei mais uma porção de Balas... Como assim que Balas? As Balas Juquinha!! Sou bobo mais não, viu? Balas Soft... Nem trancado no banheiro da casa do P e d r i n h o...
Dedico este post ao meu querido primo "Betinho"( que faleceu jovem aos 12 anos de idade, vítima de leucemia ). Este post é todo seu parceiro... Sei que teríamos dado muitas risadas juntos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A LENDA DO NEGRINHO DO PASTOREIO


Caríssimos e Caríssimas... Eu poderia retomar minhas postagens falando de qualquer outro assunto. Mas achei pertinente retornar ao ponto de onde parei... Ah! É provocativo? Claro que sim... E Porque não? Sinto-me hoje “legalmente” apropriado e livre para falar sobre qualquer temática que me venha à cabeça, desde que munido de responsabilidades, direitos legais e respeito mútuo. É bem verdade que permaneci calado, ausente e engasgado todo esse tempo, mas agora que me foi dado “Ganho de Causa” no tocante à Calúnia (art. 138 do Código Penal); Difamação (art. 139 do Código Penal) e Injúria (art. 140 do Código Penal). Onde todas as acusações a mim direcionadas foram consideradas de cunho insubstancial - e consequentemente – Infundadas. Agora faço valer meu direito de “blogar” sem a PREOCUPAÇÃO EXCESSIVA com o politicamente correto. Portanto, ouso contar uma Lenda do Folclore Popular Brasileiro que permeou minha infância:
O NEGRINHO DO PASTOREIO

Esta é uma lenda de origem gaúcha, com fundamentos católicos e europeus. E foi muito contada no final do século XIX por brasileiros que defendiam o fim da escravidão. Conta-nos a lenda que há muito tempo, lá pelos pampas gaúchos, no Rio Grande do Sul... Existia um estancieiro avarento e muito cruel com seus escravos e peões.

"Só para três viventes ele olhava nos olhos: era para o filho, menino cargoso como uma mosca; para um baio cobos-negros, que era o seu parelheiro de confiança, e para um escravo, pequeno ainda, muito bonitinho e preto como o carvão e a quem todos chamavam somente, o Negrinho. A este não deram padrinhos nem nome; por isso o Negrinho se dizia afilhado da Virgem, Senhora Nossa, que é a madrinha de quem não a tem." ( LOPES NETO, Simões. 1960).

Naqueles fins de mundo, o estancieiro fazia o que bem entendia, sem dar satisfação a ninguém. Certa vez, debaixo de um frio desgraçado, o cruel senhor mandou que o Negrinho fosse pastorear os cavalos e os potros, coisa muito comum nos tempos em que os campos de estância não careciam de cercas aramadas. E o tal escravo Negrinho - órfão de pai e mãe – e que era maltratado por todos, principalmente pelos filhos do seu senhor, lá se foi, por entre os campos a pastorear... E era sempre assim, fizesse chuva ou fizesse sol, lá estava o Negrinho do Pastoreio pronto para servir. Mas um dia o pobre Negrinho perdeu um dos cavalos no pastoreio. E foi o suficiente para que ele apanhasse – impiedosamente - amarrado a um tronco. E mesmo cambaleando de dor, ainda foi obrigado a procurar o tal cavalo extraviado. Já se fazia noite, daí ele pegou um toquinho de vela e saiu campeando noite a fora. Mas de nada adiantou! O toquinho de vela acabou, amanheceu o dia e ele teve que voltar a estância sem vestígios do cavalo. Então foi outra vez amarrado ao tronco e barbaramente surrado até a morte. Dizem que o cruel patrão mandou abrir uma vala junto a um grande formigueiro localizado debaixo de uma árvore e jogou o pobre Negrinho lá, para que as formigas dessem conta do que restou de seu escravo. No outro dia, o estancieiro impiedoso foi com os peões e os escravos ver o formigueiro. E qual não foi sua surpresa ao ver o Negrinho do Pastoreio vivo e contente, ao lado de ninguém menos que a Virgem Nossa Senhora. E logo mais adiante, o cavalo outrora perdido. O estancieiro se jogou no chão pedindo perdão, mas o negrinho nada respondeu. Apenas beijou a mão da Santa, montou no cavalo e partiu conduzindo a tropilha. Desde então o Negrinho do Pastoreio ficou sendo o “achador” das coisas perdidas. E para que isso aconteça, basta apenas acender um toquinho de vela e pedir assim: "Foi por aí que eu perdi… Foi por aí que eu perdi… Foi por aí que eu perdi…" Se ele não achar ? Ah, meu bem!!! Ninguém mais acha.
Penso o seguinte: Durante toda minha infância escutei essa história, fosse contada pelo meu avô Albino, por minha mãe e/ou minhas tias; li também por diversas vezes essa mesma história; realizei trabalhos escolares na semana do folclore com o referido tema e até promessa fiz para o Negrinho do Pastoreio... Como é que agora - na casa dos quarenta - iria desconstruir tudo isso? E o que é pior, com a mesma facilidade com que tenho a obrigação de introjetar o politicamente correto no meu cotidiano. Sinceramente, não me imagino tendo que contar para meus futuros netos a “Lenda do Afrodescendentezinho do Pastoreio”. Sei da importância do politicamente correto e do respeito que precisamos ter em relação ao outro, com suas caracteristicas, desejos, formação e experiências. Mas não há como negar que – infelizmente – tem muita gente paranóica que exagera no politicamente correto e se utiliza da hipocrisia para atingir os menos desavisados. Portanto, que o Negrinho do Pastoreio ajude o Sr. Erinaldo Francisco de Almeida Trajano, bem como as Sras. Alexandra Maria Sotero Diniz Sobrinha e Dandara Lethieri Vasco d’Almeida a encontrarem o caminho do bom senso e da verdadeira militância em prol dos Direitos Humanos.


Fontes de Pesquisa:

LOPES NETO, João Simões. Simões Lopes Neto; contos e lendas. 2ª ed. Rio de Janeiro, Editora Agir, 1960. Nossos Clássicos, 5;

CASCUDO, Luís da Câmara. Geografia dos mitos brasileiros. 2ª ed. São Paulo, Global Editora, 2002, p.328-334;

Agradeço a todos os amigos que se manifestaram através dos comentários e em especial aos blogueiros amigos: LUSA VILAR, CRISTINA SIQUEIRA, CARLINDA NUNES E O MARCO SANTOS.