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sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

ENTÃO É NATAL .... HOU, HOU, HOU!!!

Então é Natal meu bem... A data festiva mais celebrada no mundo inteiro e comemorada por nós - aqui no Brasil - da forma menos brasileira possível. Tô mentindo? É só o que vemos: Papai Noel, trenós, pinheiros, neve, pisca - pisca, chaminés, renas, avelãs, pinhão, amêndoas, nozes, duendes, Finlândia, Lapônia, Estônia e jingle Bells. Nada a ver! Pelo menos aqui no nordeste... Mas fazer o que né? Desde que eu me entendo por gente sempre foi assim... Tudo muito Glacial! Nesse ambiente gelado (brrrrrr!!!) construímos nossa identidade natalina. E que eu saiba, não podemos fazer mais nada. Falo por mim. Pois por mais que eu queira pensar que no mês de dezembro eu “moro num país tropical...” Hou, Hou, Hou. Não consigo. Em dezembro, o Polo Norte é aqui! Você abre a janela de sua casa e tudo esta enregelado de Natal. Lojas, casas, edifícios, praças, coisas e tal. E eu quero confessar: Me acostumei com tudo isso! Não vou mentir... O clima nórdico natalino tem o cheiro de mim mesmo quando pequeno. Fui criado acreditando que dezembro era o mês mais importante e mais gelado do mundo i-n-t-e-i-r-o; que o menino Jesus renascia todo 25 de dezembro numa manjedoura e que o Papai Noel era um velhinho “justo”e rico que saia por aí distribuindo presentes pra criançada. Isso sem falar que em dezembro existiam lapinhas, festas, missa do galo, ceia farta, roupa nova, show do Roberto, presentes, férias e o final de ano. Foi esse o clima natalino que ficou registrado, sedimentado e carimbado na minha mente e em meu coração. Agora não da mais para descontruir... Esta tudo entranhado dentro de mim! Somente a partir de janeiro é que vou cantar :“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza!!! E em fevereiro, tem Carnaval...”(Jorge Ben Jor) E vamos combinar, vai... Clima gelado no Carnaval só o da cervejinha, né mesmo?
Definitivamente! Não existe época melhor pra ser criança do que o mês de Dezembro. Ah! Lembro-me com carinho dos meus primeiros natais... Assim que findava novembro era um alvoroço lá em casa. Tudo porque já estava na hora de montar a árvore de Natal. E numa única tarde enfeitávamos a casa com bolinhas coloridas, pisca-pisca, velas vermelhas, guirlandas, lapinha, pinhões (pintados de dourado), festões, bicos, fitas e algodão se passando por neve. Naquela época o Natal tinha mais magia, sei lá... Eu na véspera sequer dormia, ficava embolando na cama. Minha irmã caçula quando ficava ansiosa mijava na cama. E se mijar na cama já viu né? “Nadica” de presentes. Dormia de fraldas - tadinha - e, na marra. Mas valia tudo meu bem! Tratava-se do presente de natal... E vai que ela mija em cima do tão esperado presente? Pesadelo total!  Enfim, a expectativa era enorme para acordar, olhar embaixo da cama e encontrar o presente. Lá em casa nunca existiu essa estória do Papai Noel dar presente pra nós. Sempre soubemos que nossos pais, tias e avós eram os presenteadores. O lema era o seguinte: Mereceu? Então ganha presente. Não mereceu... Um equívoco! Pois ganhei vários presentes e nunca fiz por merecer... Bom! Isto é uma outra história (rs,rs,rs...). Foi uma época realmente mágica!  Passávamos a noite toda deitados no chão, brincando com nossos presentes e desejando os presentes uns dos outros… Ô tempo!
Todo final de ano minha mãe, juntamente com minhas tias, iam para o centro da cidade fazer as compras de natal e ano. E sempre nos levavam juntos (eu, meus irmãos e meus primos) pra escolher os presentes, comprar sapatos, meias, cortes de fazenda (pano) e roupas novas. E essas mesmas roupas iriam servir para todas as festas, aniversários, 15 anos e batizados que por ventura surgissem no primeiro semestre do ano que estava por vir.  Shopping Center? Existia não meu bem. As compras eram feitas nas lojas ao longo das ruas comerciais. Pagamento com Cartão de Credito? Nem se escutava falar em Cartão de Credito. Era tudo na base do Crediário dividido em “suaves” parcelas com juros que custavam os olhos da cara. Existiam crises e mais crises econômicas meu bem... Tempos de inflação, FMI e dólar nas alturas. Tá pensando que as coisas eram assim, fáceis de ter. Nãããão! Tinha gente que abria crediário pra tudo. Até  para pagar a prestação de um desodorante.... Hoje é tudo muito fácil! Pois se depender das financiadoras, e se agente concordar, elas parcelam até a vida no cartão da C&A meu bem...
Esse era o período que meus pais recebiam minhas tias, meus avós, meus primos... Tudo era festa. Daí ele mandava pintar a casa, limpar a fossa e ajeitar o telhado. O entra e sai de pedreiros e o cheiro da tinta tomava conta de tudo. Mas eu e meu irmão nos divertíamos assim mesmo... Principalmente na hora de retelhar o terraço pra tapar as goteiras. E lá estávamos nós, a espera dos entulhos que normalmente surgiam após a varredura... Bolas murchas, cabeças e braços das bonecas da minha irmã, bolas de gude, soldadinhos e índios de plástico, metade do time de futebol de botões e até dente de leite enganchado nas linhas de bordar da minha avó. Ô saudade grande! E depois de tudo arrumado, casa cheia, paredes pintadas e fossa limpa... Repito, tudo era uma festa.
A primeira coisa que meu avô paterno fazia quando o ano novo chegava, era trocar os calendários de farmácia pendurados na parede. Pronto! Era como se fosse um selo de garantia e esperança para o ano todo. Nesses calendários ela marcava o período de safra e entresafra.  Meu avô costumava espalhar calendário pela casa toda... E depois minha avó vinha com o dela (calendário com todos os santos do dia) e pregava próximo ao oratório. Era ali, junto aos santos, que ela marcava suas missas, fazia suas promessas, seus pedidos e desejos para o ano novo. Ela sempre me dizia que promessas e desejos revelados não vingavam. Portanto, foi com ela que aprendi a não revelar os meus planos e desejos (mais secretos) para o ano novo. Só revelo meus desejos mais comuns e bizarros. Este ano, por exemplo, eu tenho dois desejos super bobos. Primeiro: Desejo que a garota Maísa do SBT cresça rápido... Pois já não agüento mais! Pelo amor de Jesus... E Deus me livre que ela termine como o eterno garoto Ferrugem, que até um dia desses estava na MTV, do mesmo tamanho e com a mesma cara... Não suportaria! E a Segunda é que esse ano tenha menos mulheres frutas. Já que sou sensível à frutose (rs!) Que foi! Falei Bobagem é?? Mas é isso mesmo... Só revelamos aquilo que nos convém. E eu confesso: Morro de medo de olho grande! Brincadeira...he,he,he.
Eu não sei o que dava (e acho que ainda dá!) nos adultos pra pensar que toda criança gosta de tirar fotos com Papai Noel. Ele podia, e pode, até ser bonzinho coisa e tal. Mas eu sempre achei Papai Noel um “saco” (desculpas! Tá, Papai Noel...). Quando criança eu não fazia diferença entre Papa Figo, Véio do saco e Papai Noel, para mim, eram a mesma coisa. Morria de medo e abria o berreiro ali mesmo, na cara do Papai Noel. E o pior é que mesmo aos berros minha tia insistia pra que eu sentasse no colo do Papai Noel pra tirar uma foto....Ôxe! Trauma Mortal. Lá em casa aprendemos a ver Papai Noel como uma espécie de boneco, uma figura emblemática do Natal e só. Algo típico pra época, mas que nunca foi um personagem bíblico ou santo católico. Eu, na minha inocência, cheguei a pensar que Papai Noel fosse um dos três reis magos... Mas minha avó sempre teve o cuidado de nos dizer quem era quem no evangelho. E sua maior preocupação era de dar crédito ao dia 25 de dezembro à quem de fato era de direito: O dia do nascimento do Menino Jesus!
Geeeente!!! Shopping Center em época de Natal é quase um “puxadinho” da casa do capeta. INFERNO TOTAL! Pois é... Fui forçado a entrar no Shopping e dar uma passada na ótica pra pegar meus óculos que estavam no conserto e... Mais nada. Andei alguns metros e desisti. Preferi ficar “cegueta” até o Natal terminar. E o que é pior, assim que entrei, e já sem paciência, fui obrigado a escutar pela milésima vez (só esse ano) a faixa número um do Cd de Natal de Simone: “Então é Natal...” Uma tortura né? E parece que o shopping e todas as lojas só sabem tocar essa música. E acreditem, ainda tive que enfrentar fila pra pagar o estacionamento com essa música na cabeça. Juro! Quis morrer. Principalmente naquela hora que Simone começa a gritar chamando por Hiroshima e Nagasaky. Definitivamente! Foi o fim da picada meu bem... Fiz uma promessa de nunca mais entrar num shopping nesse período. Só os desesperados se atrevem, eu? Nunca mais.
Ô Deus! Quanta saudade dos cartões de Natal recebidos pelos correios. A grande maioria dos cartões fazia jus ao espírito natalino. As imagens retratavam o nascimento do Menino Jesus, a lapinha, a manjedoura, os três reis magos, os animais... Era uma verdadeira tradição a troca de cartões natalinos. Hoje você recebe trezentos e vinte e sete e-mails enviados em bloco, e com poemas “alêius” que ninguém sabe de quem é. Todos cheios de frufrus e bichinhos animados brilhando... A Igreja católica que me absolva se eu estiver errado, mas o Natal em Cristo - infelizmente - vem perdendo a importância religiosa para os ocidentais. Só nós, os mais tradicionais, é que celebramos por direito esse que é o dia do Nascimento do Menino Jesus. Uma pena!
Apesar dessa onda “gelada” que nos acompanha há tanto tempo, nós temos um natal bem brasileiro sim. É só escarafuncharmos nossa cultura e encontraremos um natal festivo, com muita música, verão, zabumba, sanfona, saia de chita e danças. Estou falando do período que abre passagem para os folguedos dos santos reis. Quem nunca escutou falar do pastoril? Um bando de lindas pastoras que cantavam tomando partido e, disputando, umas com as outras, em favor dos cordões azul e encarnado. Tinha a mestra, a contra mestra e a Diana que não tinha partido. Eita tempo bom!!!! E viva o cordão encarnado... E viva o cordão azul! E vivas ao menino Deus! Esse é que é o natal do nosso Brasil. Né, amigo Paulo Patriota?
Sempre gostei de romper o ano em casa e depois ir a praia. E chegando lá, fazer uma oração,  meditar e jogar flores ao mar pra Nossa Senhora/Iemanjá. Só que isso foi há muito tempo atrás... Antes de invadirem nossa praia. Certa vez eu fui jogar flores pra Iemanjá na praia de boa viagem e dei de cara com um show de Elba Ramalho... Juro que me espantei!!!! Assombrei-me com ela (Claro!) e com o montão de gente que passou a invadir as praias de Recife na noite da virada de Ano. Poxa! E eu que gostava tanto de ver as oferendas na areia, com direito a flores, perfume de alfazema, champanhe sidra e leite de rosas pra Iemanjá Rainha. Tudo dentro daqueles barquinhos comprados no Mercado São José... Ei! Que foi? Sou eclético nas minhas crenças e daí? Passeio por todas as religiões... E eu adoro rituais religiosos, simpatias, crendices. Afinal tudo pode acontecer no ano que se aproxima. E eu sou o tipo da pessoa que curte essas “superstiçõezinhas” de ano novo : Saltar sete ondas; colocar 03 caroços de romã dentro da carteira; vestir cuecas novas na cor branca; tomar banho de arruda; comer 12 uvas verdes; dar 03 pulinhos; dançar ao redor de uma árvore e tantas quantas aparecerem... Muita coisa da certo. E Lóóógico, outras não. Essas que não dão certo eu despacho num montante só, feito um ebó pesado nas encruzilhadas da vida. Feliz Natal e Feliz Ano Novo meus Caríssimos e minhas Caríssimas... Um beijo enooorme!

sábado, 11 de dezembro de 2010

EU JÁ FUI UM VICIADO EM KI SUCO !


Era uma vez um envelopinho contendo um pó colorido nos mais diversos sabores. Daí uma jarra sorridente - com um litro de água em seu bojo - recebe feliz o tal pozinho colorido. E como num passe de mágica, em poucos segundos, pó e água se misturam dando origem a um “delicioso” refresco. Refresco esse que há mais de 80 anos ainda permanece no imaginário das famílias do mundo inteiro. Aqui no Brasil ficou conhecido como: Ki Suco!!! Lembram dele??? Então... Ele tornou-se a forma mais prática, econômica e rápida de matar a sede. Bastava um ou mais pacotinhos, água, gelo, açúcar e a folia da meninada estava pronta. Por décadas ele foi a grande novidade nas festinhas infantis, nos aniversários, na merenda da escola, no lanche da tarde, nos aniversários das bonecas, nos piqueniques e em tudo que era lugar... Até em velório o Ki Suco era servido. Eita tempo bom!
 O “popularíssimo” Ki Suco nasceu em 1927 nos EUA com o nome de Kool Aid. Quem o inventou foi o casal Edwin e Kitty Perkins, donos de uma empresa de sucos concentrados e engarrafados. Mas o produto oferecido por eles era bastante caro, quebrava e/ou estragava com facilidade. Ao tentar encontrar a solução, transformou o suco em pó e, no ano seguinte, lançou o novo suco no mercado. O refresco teve um sucesso tão instantâneo nos Estados Unidos e depois na América Latina, que a empresa se desfez de todos os outros produtos e se dedicou apenas ao refresco em pó Kool-Aid. Atualmente o Ki Suco sumiu da mesa das famílias brasileiras, mas continua presente em mais de 80 países e possui cerca de 20 sabores diferentes.
A Jarrinha Sorridente !
Em 1961 o produto foi lançado no Brasil, a princípio, com o nome de Q-Suco (com Q no inicio). Somente no ano de 1964 os envelopes do produto foram modernizados para receber a imagem da simpática Jarrinha sorridente criada dez anos antes. E para promover ainda mais o produto, milhares de jarras de plástico foram dadas como brindes. Já no finalzinho dos anos 60 o Q-Suco passou a se chamar KI-SUCO.
Tudo isso devido ao Q-Refresco que também ganhava espaço no mercado. Na minha época só havia um concorrente para o Ki Suco: O também “delicioso” Q-Refresco. Sua embalagem continha figuras de animais fazendo a maior festa num mar de suco “coloridíssimo”. Tinha baleias, focas, hipopótamos, elefantes, entre outros. Cada animalzinho correspondia a um sabor... A marca Q-Refresko surgiu na década de 60 e foi fundada por ex-sócios e ex-funcionários da Kibon. Esta marca existe até hoje em algumas cidades do interior. Eu, quando criança, achava que o Ki Suco tinha sido feito para toda a família e o Q-refresko tinha sido feito unicamente para crianças... Coisas de menino.
Quando íamos pra escola - eu e meu irmão - além do material escolar, levávamos um kit/lancheira completo. Na lancheira dele continha um discreto sanduíche de queijo, uma banana, um pirulito zorro e um guaraná caçula. Na minha lancheira constavam 03 mariolas, 08 embarés, 04 chicletes Ping-Pong, 04 pirulitos Zorro, 02 saquinhos de pipoca, 02 drops, 01 pacotinho de biscoito waffer de morango e uma garrafinha “super cheia” de KI SUCO de abacaxi pra beber junto com um “pastel de vento” (aqueles que eram vendidos na porta da escola). Não que a lancheira de meu irmão fosse mais privilegiada que a minha ou que eu fizesse questão - absoluta - de ser uma criança econômica bebendo Ki Suco ao invés do guaraná caçula... O problema é que eu era uma criança assumidamente viciada em doces, guloseimas e em tudo que não prestava (segundo minha mãe). E pra completar, um legítimo “dependente químico” do Ki Suco de abacaxi... Um exagero!
No ano de 1975 a famosa jarrinha sorridente ganhou um corpo, deram-lhe braços e pernas. A partir daí o mascote tornou-se uma figura constante em tudo que se referisse ao Ki Suco. O personagem se tornou tão famoso, mais tão famoso, que até ganhou o direito de ter seus pés gravados na Calçada da Fama, em Hollywood. Poderosa essa jarrinha, né não?
Hoje já não tomo mais refresco em pó de qualidade alguma. Mas saibam que minha convivência com o Ki Suco foi tão intensa e frequente que beirou o passional mesmo. Uma dependencia horrorosa! Pois só de me lembrar bebendo Ki Suco de abacaxi minhas papilas gustativas se ouriçam. Verdade!!!! Elas são capazes de resgatar o sabor do Ki-Suco de abacaxi onde quer que ele esteja... Eu juro! Geeente, eu bebi tanto Ki Suco na minha vida que vocês não imaginam. Acho que meus pulmões, rins, pâncreas e sei lá mais o que?! Até hoje estão tinturados por conta do Ki Suco. Na época eu nem queria saber se o Ki Suco era feito assim ou assado, se continha açúcar, fosfato de potássio monobásico, ácido cítrico, benzoato de sódio, sorbato de potássio, corantes artificiais, antioxidante... Ah! Pouco me importava na época. E acho que a maioria das crianças pensava assim também, afinal de contas o mais importante era o sabor e pronto. Éramos deliciosamente alienados e sequer sabíamos. Já as nossas mães... Hummmm! Essas eram antenadas por demais da conta.
Certa vez quando retornava da escola vi um amontoado de mães conversando no portão de minha casa. E dentre elas - lóóógico - estava a minha. Daí já foi me dando um coisa ruim sabe... Um frio esquisito na barriga. Que foi que eu fiz dessa vez??? Pensei. Mesmo assim me aproximei, dei boa tarde, entrei em casa e nada aconteceu. Ufa! Escapei... O negócio não era comigo. Mas mesmo assim fiquei encucado. Não era normal várias mães reunidas na porta da casa da diretora da escola (minha mãe era a diretora da escola na época)... Enfim, o mistério durou pouco. Assim que ela entrou em casa foi logo dizendo:

- A partir de hoje o Ki Suco ou qualquer outro pacotinho de refresco em pó está terminantemente proibido nesta casa. Escutou né?

Só fiz balançar a cabeça. O problema era com o Ki Suco e não comigo. Louco de quem questionar uma mãe numa hora dessas... O problema foi o seguinte, uma das mães leu na Revista “Fatos e Fotos” que a tinta (corante) do Ki Suco - no estomago de uma criança - fazia o mesmo estrago que um veneno pra matar ratos. E o que é pior, oito crianças já haviam chegado à óbito no interior do Paraná vitimadas pelo Ki Suco sabor uva. Que segundo ela, era o corante que mais matava. Pronto! Um bando de mães escutando um troço desses, já viu né? Pânico materno coletivo e total. A partir de então o Ki Suco foi proibido na escola, “na rua , na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê”. O Caos!
Na minha casa NÃO era proibido proibir... Portanto, o AI- KS (Ato Institucional anti Ki Suco) tornou-se inquestionável e já estava valendo. O coitado do Ki Suco entrou para a lista dos inimigos mortais das criancinhas desavisadas... Bom, minha primeira crise de abstinencia começou logo na hora do almoço. Como poderia sobreviver sem meu ki- suco de abacaxi? Geeente! Foi nesse momento que me percebí - definitivamente - viciado “nas tintas” do Ki Suco. Pois tudo se encaixava direitinho... O Ki Suco primeiro viciava e depois ia exterminando as criancinhas do nosso “Brasil Varonil”. Enfim, entrei em desespero... Será que minha mãe estava certa??? Me conformei: EU ERA UM VICIADO NO PÓ DO KI SUCO!!! E na hora do almoço implorei, chorei, argumentei e nada de minha mãe voltar à traz. Até contei pra ela que a prima da namorada do tio de um amigo meu havia bebido querozene com ki suco de uva e, de quebra, mais 05 cartela de Lactopurga - tudo junto e misturado - e tinha sobrevivido. E como é que eu, com um copinho de ki suco de abacaxi na hora do almoço, ia morrer?

- Parabéns pra ELA que não morreu. Disse-me minha mãe. Mas o Ki Suco VOCÊ NÃO BEBE MAIS! E vamos parar com essa ladaínha sem fim...

Como é que pode? Proíbem uma tranqueira deliciosa como é o Ki Suco e nos fazem tomar Emulsão de Scott todo dia. Isso não entrava na minha cabeça!!!
Essa história ainda não acabou nããããão... O Decreto Materno referendado pelo AI-KS se espalhou, cresceu e chegou até o recinto escolar. E o saldo de tudo isso foi repressão total ao Ki Suco dentro da Escola!!! No entanto - durante o recreio - ainda se via crianças com a língua roxa, amarela, laranja, vermelha... O problema meu bem, é que as professoras alertaram as mães sobre os malefícios do Ki Suco e esqueceram de avisar as tias que vendiam sacolé (de Ki Suco) na porta da escola... Não deu outra: sacolé, dindin, gelinho, geladinho, chupe-chupe, picolé de saquinho... Fosse o nome que fosse, estava proibido! Lembro que as tias do sacolé de Ki Suco se tornavam celebridades e eram adoradas pelas crianças da escola. Sério!!! Eu tive um coleguinha de sala cujo sonho era ser filho da tia que vendia sacolé... Mas coitadas das tias! Vendiam sacolé pra complementar a renda e foram banidas da porta da escola. Principalmente depois da história do aluno que perdeu dez quilos, ficou amarelo e todo desbotado. E a culpa foi de quem? Do sacolé de Ki Suco, lóóógico. Pois disseram que o menino chupou um sacolé de Ki suco de uva com 05 martelos dentro. Como assim martelos? “Martelo” era o nome que se dava às larvas dos mosquitos antigamente. Tendeu?! Ah, essas histórias... O bom é que o tempo por si só desmistifica tudo. E quanto ao AI-KS? Ora! Não vingou por muito tempo. Foi desaparecendo tal qual a cor da tinta nos sacolés de Ki Suco que vão enfraquecendo, enfraquecendo e... Somem. Pois na medida em que são chupados viram gelo. O Decreto Materno derreteu com o tempo!!! Confesso que não deu dois meses e lá estávamos nós na porta da escola comprando sacolé de Ki Suco novamente. Inclusive, o menino magrelo, amarelo e desbotado.
O Ki Suco hoje faz parte da Memória Nacional. Pois quando escutamos falar em refresco em pó o que ainda nos vem à cabeça é o Ki Suco. E todo mundo já saboreou - pelo menos uma vez na vida - um gostinho que fosse do Ki Suco de Morango, Cereja, Framboesa, Abacaxi, Uva, Laranja, Limão, Groselha... Desde 1900 e bolinhas que o Ki Suco (Kool Aid) existe e marca presença no mundo inteiro. Mas aqui no Brasil – infelizmente - perdeu sua supremacia por conta das diversas fusões empresarias e pela chegada de novos e fortes concorrentes.
Atualmente o mercado está cheio de rivais, entre os quais o Tang, que a meu ver, foi o grande facínora da brilhante trajetória do nosso memorável Ki Suco, pois quando ele surgiu, o Ki Suco praticamente desapareceu. O produto diminuiu sua importância, marca e aceitação no mercado para produtos como: Frisco, Mid, Fresh, Camp, Sukest, Fit, Qualimax, Clight e tantas outras. Mas para mim todas essas marcas são iguais e nenhuma delas se aproxima do carisma do Ki Suco com sua Jarrinha Sorridente. Eu adorava Ki Suco e você?

sábado, 30 de outubro de 2010

A FAMÍLIA COMERCIAL DE MARGARINA! UMA FAMÍLIA PERFEITA QUE NÃO DERRETE NUNCA.

Desde que eu me entendo por gente, propaganda de margarina é tudo igual. Há sempre uma família estupidamente feliz, mesa farta e, claro, um pote de margarina. Daí toda a família troca olhares de júbilo enquanto desliza uma espátula “cheínha” de margarina num pão bem quentinho. E mais, fazem cara de esfomeados felizes, mordem a fatia do pão (Nhac!!) e finalmente proferem um melodioso: "Hummmmmm, delícia!". Assim começa o dia para uma família de comercial de margarina, ou melhor, a família perfeita que não derrete nunca.
E há mais de 50 anos que as propagandas e os comerciais de margarina encantam, assustam, deprimem, seduzem, cativam e povoam o imaginário das famílias ditas “normais”. E o mais interessante é que o panorama familiar apresentado nos comerciais nunca muda. É sempre o mesmo: Um lindo dia de sol adentrando na janela de uma linda casa, com cortinas brancas esvoaçantes, pássaros em silvo e flores campestres que avivam o lindo cenário. E a mesa do café da manhã? Lóóógico que é surreal, maravilhosa e superabundante: frutas, leite, ovos, sucos, chás, pães, queijos, frios, torradas, croissants, papas, mingaus, geléias, yogurtes, cereais, patês, biscoitinhos, bolos... e ela, a margarina. Quanto à família, nem se fala. Todos e todas acordam satisfeitos às 5h45m já maravilhados com o sol e definitivamente felizes. A esposa linda, super tranqüila, magra, branca, bem vestida, cabelos escovados e no alto de um salto 12 serve o café. O maridão também lindo, elegante, branco, cheiroso, alto, bem humorado e com a barba bem feita, dá um sonoro: Boooooooooom dia! (lindo, né não?). Geeeente! E as crianças? Todas impecáveis, lindas, brancas, meigas, amáveis, carinhosas, engomadinhas, alegres, saudáveis e... Comportadíssimas! Sem falar no “Rex”, o cão, latindo e correndo pela casa. Também lindo, brincalhão, sem pulgas e de banho tomado. Enfim, este é o panorama familiar que está registrado no inconsciente coletivo de muita gente ao longo de todos esses anos.
Caríssimos/as é muito “raro” encontrar famílias iguais as dos comerciais de margarina. Uma vez que o nosso dia a dia é bem mais árduo do que os mostrados aqui, nas propagandas. Esses comerciais mostram um modelo “idealizado” de família totalmente fora da realidade, pelo menos para alguns milhões de brasileiros... Não que ninguém possa ambicionar algum dia ser um casal estável, com filhos tranqüilos e ausência de atritos. Até porque todos nós criamos expectativas e fantasias, né não? Mas o que eu quero dizer é que pelo menos se crie um modelo compatível com a realidade do cotidiano familiar brasileiro. Pois eu, definitivamente, não acredito em nenhuma propaganda de margarina (... e nem de inseticida!). Tu achas que algum dia eu vou acreditar que a margarina “tal” seja capaz de tornar famílias e pessoas mais unidas e felizes? Agora! Se você acredita e gosta do que vê nos comerciais de margarina, então compre. Eu sinto-me feliz em não mais ser iludido.
Ei... Peraí! Não pensem que sou o inimigo numero um das margarinas. Claro que não! Nada tenho contra as margarinas, cremes vejetais, halvarinas, margarelas e seus derivados. Pelo contrário, EU ADORO UMA MARGARINA NUM PÃO BEM QUENTINHO... Só não gosto das campanhas publicitárias. Elas tentam colocar na cabeça das pessoas que nada dá errado em nossas vidas, que nada nos falta, que temos abundância em tudo. Como se a nossa casa estivesse sempre perfeitinha; nossa bondade, saúde e bem estar em dia; nossa vida profissional magnífica e que entre nós tudo são rosas brancas. Isso é o que eu não gosto e nem acredito! Mas a verdade é essa... Nos comerciais de margarina todas as famílias são escancaradamente felizes,  mas só “publicamente” meu bem.  E isso nos faz pensar que a família do vizinho é sempre mais harmoniosa que a nossa, que nossos filhos são uns “pestinhas” e que o marido alto, loiro e lindo da fulana da esquina é tudo que há... Sim! O marido da outra é perfeito porque não vive com você meu bem! Toda família – na intimidade – tem ajustes a fazer. Essa “perfeição” ofertada nos comerciais de margarina para mim é “fake”, compra e acredita quem quer... A família “perfeita”, no meu entender, é aquela que sabe enfrentar os momentos críticos e difíceis. Porque a vida em família é também um amontoado de problemas que normalmente gera frustrações. E viva a família feijão com arroz!!! kkkkkkkkk

Eu conheço gente que “deprime” toda vez que assiste um comercial de margarina... Juro! É verdade. Já se imaginaram comprando um pote da margarina “tal”, e junto com ele, o desejo de ter a uma linda família igual aos comerciais de margarina? Pois é, tem gente que ainda acredita. E quando se depara com a realidade cotidiana de uma família normal... Hummm! Deprime geral. Não ter “uma família margarina feliz” pode ser um sinal de que algo de muito errado existe (uiiiiii?!). E a culpa pode ser sua. Cuidado!!! Vai que você anda comendo a margarina errada e não sabe? Ah, se um simples potinho de margarina fosse à solução para os conflitos familiares existentes no Brasil e no mundo...!
E mais, nunca precisei dançar “O último tango em Paris” para saber que a margarina serve para mil outras coisas... Mas nos comercias do produto ela parece servir apenas e tão somente para passar no pão ou na torrada. Margarina só combina com pão é? E é!!! Deve ser por isso que a margarina só é “a estrela” no café da manhã... E até porque ninguém vai passar o restante do dia comendo pão com margarina. Ou vai?!
Sinceramente! Eu não acredito que seja possível levar uma vida de comercial de margarina o tempo todo... Me poupem né! Mas eu acredito que podemos – de vez em quando – nos proporcionar MOMENTOS COMERCIAL DE MARGARINA... Por que não? O que é que custa, uma vez perdida, botar a mesa para o café da manhã e juntar a família? Mesmo que nesta mesa só tenha café puro, pão, ovo, cream-cracker e margarina. O “toque glamourizado” quem dá é você meu bem! Não custa nada sermos felizes com aquilo que temos no momento e na companhia daqueles a quem amamos... E só.

Não seria fantástico um comercial de margarina mostrando uma família pautada na realidade... Onde de repente os pais - separados ou não - juntamente com os filhos, o cachorro e o papagaio acordassem apressados, em cima da hora, e com tudo por fazer? E, rapidamente, tivessem que dar conta de tudo. Organizar o material escolar enquanto as crianças tomam café. Daí as crianças derrubariam o achocolatado na toalha da mesa, o cachorro latia, o irmão mais velho “arengava” com a irmã menor, o pai intervia e ao mesmo tempo passava o olho nas contas à pagar pregadas na porta da geladeira. A mãe “ligadona” gritava lá do banheiro: Para com isso menino... Quem já viu passar margarina na cabeça da sua irmã? Já para o banheiroooooooo! (rs)... Então é isso caríssimos/as. A felicidade familiar nem sempre depende da ausência de estresse, confusão e mesa farta, como pregam os comerciais de margarina. Podemos ser felizes sim!!! Driblando tudo isso com sabedoria e muito humor, né não? Agora vamos falar das margarinas que marcaram época..

Geeente! Esta margarina marcou minha infância... Quem não se lembra de ter visto na televisão - durante a década de 70 - o comercial da margarina bem-te-vi? O comercial mostrava um menino e uma menina (com um laço enooooooorme na cabeça) numa charrete, enumerando os itens da compra que estavam prestes a fazer. “Sal, café, fubá, açúcar, margarina... Que margarina? Bem-te-vi!”. Daí um assovio imitava o passarinho e a imagem do bem-te-vi saía voando atrás da charrete... Bem-te-vi, bem-te-vi.” O filme era preto e branco e tinha a marca do artista plástico pernambucano Lula Cardoso Ayres. Que saudades meu Deus!
Nunca experimentei esta margarina, mas sempre a vi estampada nas páginas das revistas  “Seleções” do meu avô Albino.  Na verdade, o nome nem era margarina ainda, se chamava “Gordura Vegetal Hidrogenada Saúde”. Ela surgiu no final da década de 40 para desbancar a “banha de porco”, gordura barata e tida como não saudável. E também porque a manteiga, na época, era muito cara.
Anúncio anos 60.
Anúncio anos 70.
A margarina Delícia foi lançada em 1959 e até hoje se encontra presente na mesa dos brasileiros. É uma das marcas mais lembradas por todos nós.
Anúncio anos 70.
Anúncio anos 70.
Eu lembro dessa margarina até hoje... Era a preferida da minha Avó Maria. Ela surgiu bem antes do filme “Dona Flôr e seus dois Maridos” (1976) com Sonia Braga e José Wilker. Mas atingiu o ápice, indiscutivelmente, com a popularidade do  filme de Bruno Barreto. E todo mundo passou a chamar de: A margarina de Dona Flor e seus dois maridos. Inclusive minha avó Maria.

A margarina becel, feita com óleos de sementes de girassol, foi lançada no Brasil em 1975. E é conhecida até hoje como a margarina que cuida do seu coração. A embalagem antiga era mais bonitinha, né não?
A margarina Claybom chegou ao Brasil na década de 50 em latas redondas. E ainda nesta mesma década, tornou-se a primeira margarina do Brasil em tabletes, embaladas em película de alumínio.
Na década de 70 a margarina Claybom ganhou uma mascote nada convencional. Foi a Menininha gulosa “Nhac”, que acabou virando um ícone da marca. Ela aparecia em todos os anúncios da margarina Claybom, na TV e em revistas.

A margarina Doriana surgiu pela primeira vez no mercado brasileiro em 1970. E ficou conhecida como a primeira margarina cremosa do país. Seu slogan mais famoso foi: “por um café da manhã mais feliz”.
Anúncio anos 80.
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Literalmente, as margarinas deixam marcas em nossas vidas. Seja no tocante ao sabor, quanto nos patéticos e emocionantes comerciais e propagandas... Quem não lembra da Mila ( a margarina que veio do milho ), Cyclus ( a vida é feita de Cyclus), All Day (Oh! Happy Day...) Bonna ( é bom estar assim, feliz à toa...), Alpina (passa Alpina que passa... Tendo Gerson Brenner como garoto propaganda), Soft&Line, Qualy (com aquele pato magrelo da sadia pulando), Deline, Delicata, Amélia, Bambina, Primor, Soya, Vigor, Cremosy Petybom, Margarella, Paladar, Puro Sabor, Leco, Mesa, Adorella, Línea, Fiorella... E a FAMÍLIA DAS MARGARINAS cada dia aumenta mais. Isto, é real! He,he,he.

domingo, 10 de outubro de 2010

A "ESTANTE DE TIJOLOS" E A MINHA FUGAZ INTELECTUALIDADE DE ESQUERDA !

Fui uma criança totalmente alienada politicamente. Pudera! Eu sequer entendia o clima nebuloso, repressivo e ameaçador da década de 70... Tempos de Ditadura Militar meu bem. O cenário era verde oliva e as atitudes eram “a la Garrastazu Médici”. Aquela coisa... Direita volver e esquerda jamais!!! O preto coturno do exército brasileiro dominava o pedaço. E eu - demente - colecionava as figurinhas do Álbum “Brasil, Ordem e Progresso” e ainda “morria” de cantar na escola: EU TE AMO MEU BRASIL! Enfim, eu, como tantos outros, fui um garoto desorientado no tocante ao militarismo ditatorial e seus atos execráveis. E quando vim entender melhor “as coisas” já era tarde demais... A Ditadura estava com os dias contados. E junto com ela, o meu sonho de um dia vir a ser um militante do partido dos camaradas vermelhos. Sim! Mas o que é que tem a ver a “Estante de Tijolos” (modismo “desbundado” na década de 70) com a Ditadura Militar (1964/1985)...


Tem tudo a ver. É que antes de completar 14 anos eu já tinha decidido que seria um “intelectual” de esquerda. Pode? Então coloquei na cabeça que tinha que ser complicado, esquisito, subversivo, hippie e o escambau... Lia tuuuuuuuuuuudo. Desde A ILHA de Fernando Morais, passando por FELIZ ANO VELHO do Rubem Fonseca e GOTA D’AGUA do Chico Buarque e Paulo Pontes. E todos esses livros (com crivos da censura) saíram da “Estante de Tijolos” da amiga de minha tia Dagmar, chamada Conceição Fonseca (Ceça). Advogada e militante radical do Partido Comunista. Meu sonho de adolescente na época era ter um kitnet igual ao dela. Chamava-me a atenção os tapetes de sisal espalhados pela sala; as várias almofadas estilo indianas de tudo quanto era tamanho; as samambaias na janela e um pôster do CHE junto com o de MARIGUELLA. E em seu quarto - reinava absoluta - a famosa “Estante de Tijolos” recheada de livros subversivamente maravilhosos. A estante era feita da seguinte forma: Três tábuas bem compridas (retangulares) pintadas de branco e doze tijolos com furinhos no meio. Primeiro colocava-se os tijolos no chão (de forma que ficassem espaçados uns dos outros) e depois era só colocar as tábuas por cima. E de forma alternada a “Estante de Tijolos” ia tomando corpo...


Lembro que todas às vezes quando ia visitá-la, juntamente com a minha tia, ela me dizia: “companheirinho, vai lá à estante que tem coisa nova por lá”. Era como receber um passaporte pra felicidade. Eu deitava no chão e ficava ali, horas e horas... Tinha alguns livros que ela não me deixava mexer. Dizia que ainda não era o momento, como por exemplo, O LIVRO VERMELHO do Mao Tsé Tung e os livros de Adelaide Carraro e Cassandra Rios... (esses eu li escondido dela). Foi na casa dela que conheci o escritor Roberto Freire (ele autografou meu livro Coiote nesse dia). A minha relação com a “Estante de Tijolos” da companheira Ceça era tão íntima, que ali mesmo eu chorava, ria, me revoltava e falava mal do capitalismo pequeno burguês. Pois é, nasci em plena Ditadura e passei minha adolescência no auge da luta pela Anistia Ampla Geral e Irrestrita. Sonhava com um governo popular das massas, desejo de libertação proletária... Enfim! Hoje o sonho acabou. E me entristece ver tantos intelectuais de esquerda na pós-Ditadura, abraçando os frutos de uma sociedade capitalista como a nossa. Ainda bem que a minha companheira Ceça e sua “Estante de Tijolos” já não estão mais por cá. “E viva eu, viva tu e viva o rabo do tatu”.

sábado, 25 de setembro de 2010

"COLEÇÃO DISQUINHO" FAZ 50 ANOS - AQUELES COLORIDOS, LEMBROU?

Quem foi criança nas décadas de 60 e 70 há de se lembrar da “Coleção Disquinho” da gravadora Continental. Eram disquinhos de vinil, super compactos, super coloridos e com estorinhas super maneiras baseadas nos contos de fada, fábulas, cultura popular, cantigas de roda e festas típicas. A meninada se deixava seduzir por todas aquelas estórias, especialmente, com o tom colorido dos tais disquinhos. Tinha de toda cor: verde, amarelo, roxo, azul, vermelho, rosa, azul claro... Um charme! Essa coleção fez parte da fantasia de muitas gerações de brasileirinhos e brasileirinhas... A Coleção Disquinho, neste ano de 2010, está fazendo 50 anos. Meio século de encantamento e fantasia... Brinque meu bem?

Quando escutamos falar na Coleção Disquinho, o nome do compositor Braguinha (João de Barro) vem a reboque. É praticamente impossível dissociar uma coisa da outra. Pois foi ele quem idealizou e produziu “carinhosamente” essa coleção. As estorinhas e canções eram interpretadas por atores de rádio-teatro do Rio de Janeiro. E cada disquinho possuía uma ficha técnica de causar inveja... Já imaginaram um compacto simples com canções do Braguinha, arranjos de Radamés Gnatalli e personagens interpretados por vozes melodiosas dos atores/atrizes da era do rádio? Um verdadeiro tesouro da nossa infância!
A história da charmosa Coleção Disquinho possui dois momentos - bem - distintos. O primeiro momento foi em 1939, quando Braguinha lançou o primeiro disco infantil: “Branca de Neve e os Sete Anões”. E esta estória foi gravada com as vozes de nada mais, nada menos, que: Carlos Galhardo, Dalva de Oliveira e os Trovadores (É mole? Ou quer mais?). E tudo isso com a direção musical do já citado Radamés Gnatalli. Depois veio uma coletânea de cantigas de roda e outras tantas adaptações de estórias infantis: Chapeuzinho Vermelho, A Formiguinha e a Neve, História da Dona baratinha...  E os até então, “discões” infantis, fizeram o maior sucesso. Até porque naquela época não existia nada parecido pras crianças nesse gênero. Neste primeiro momento, as gravações foram feitas naqueles discos de 78 rpm, cor de breu, pesadões e totalmente quebráveis. 
No ano de 1960 acontece o segundo momento da Coleção Disquinho. É nessa fase que a coleção assume o formato de compacto simples e apresenta-se super colorido, encantando a meninada dos anos 60 até o iniciozinho dos anos 80. Nesse período, Braguinha dividiu espaço na produção dos disquinhos com as amigas Elza e Silvia Helena Fiúza. Foram ao todo 70 lançamentos, entre contos de fada, fábulas, estórias da Disney, cantigas de ninar, de roda, de natal, entre tantas outras... A narração das estórias era feita, na maioria das vezes, por Sonia Barreto e as personagens, falas e cantigas, ao longo da década, foram interpretadas pelo Teatrinho Disquinho. Essa coleção foi um verdadeiro marco de produção e de qualidade musical direcionada às crianças. Algo inovador e totalmente pioneiro para época. Foram mais de 5 milhões de cópias vendidas entre o início dos anos 60 e o início dos anos 80.
Geeente!!!! Não tem como não se emocionar ao ver essas capinhas antigas e esses disquinhos coloridos. É um verdadeiro resgate à memória, de nossas vivencias infantis. E como não é segredo para ninguém... Sou um saudosista assumido! E tudo nessa coleção tem sabor de saudade para mim.
A Coleção Disquinho também lançou clássicos da Disney. A Branca de Neve e os Sete Anões foi um deles. Aqui pra nós, nunca fui com a cara da Branca de Neve. Tomei antipatia por ela e pelos sete anões... Assim, de graça! Enquanto meu irmão gostava da “branquela” de neve, eu era apaixonado mesmo, era pela madrasta dela. Era mais divertida! Miacabaaaaaaava com a voz da personagem! Por mais que ela fosse à vilã da história, torcia por ela! Sempre gostei das mulheres “ditas” erradas mesmo... Acho que era o estilo, a voz e a postura da madrasta que me encantava, pode? Vai entender....
Ontem, eu e meu sobrinho de seis anos, tiramos o dia pra escutar as estorinhas dessa coleção. Escutamos: A Festa no Céu, O Burrinho Tró-ló-ló, o Macaquinho Travesso, a Galinha Ruiva, a História da Baratinha, a Moura Torta, o Soldadinho de Chumbo... E tantas outras. Confesso: Foi uma experiência incrível, tanto para mim, quanto para ele! E ao escutar novamente todas essas estorinhas, foi como voltar no tempo e sentir o cheiro da minha infância. Cheiro e sabor de um tempo que não volta mais... Mais o melhor de tudo mesmo, foi constatar que esses disquinhos podem ser passados para as gerações seguintes. Pelo menos o meu sobrinho adorou! (...e eu, por um momento, cheguei a pensar que ele fosse achar tudo isso meio bobo. Que nada!).
Era bastante comum nossas professoras - do grupo escolar - levarem aquelas vitrolinhas pra sala de aula e passar os tais disquinhos pra gente escutar. E tudo virava uma festa! Naquela época, a Coleção Disquinho, através de suas narrativas, era um excelente estímulo para a imaginação, pois as crianças precisavam criar todas as cenas na cabeça. Ah! Mas isso foi  numa linda época, onde o tempo corria mais devagar e nós costumavamos apreciar as coisas simples com a curiosidade própria da infância. E tudo com uma certa dose de inocência.
E o mais engraçado ainda foi perceber que “algumas estórias” possuem traços claros daquilo que chamamos hoje de politicamente incorreto. Nessa estória da Dona Galinha e seus Pintinhos, ela abandona seus ovinhos e vai linda pra “balada”. E ao retornar, descobre que os pintinhos já tinham nascido... E onde estava ela? Na balada meu bem! No mínimo seria processada por abandono das crias... E o caso do burrinho tró-ló-ló? Onde todos tiram sarro de seu rabinho... É um tremendo Bullyng para os dias atuais! Enfim, eu cresci escutando todas essas estórias e não me deixei influenciar negativamente. Vai ver naquela época havia mesmo, a determinada dose de inocência que, infelizmente, desapareceu com o correr dos anos. Então o que será que mudou na nossa sociedade de lá pra cá?
Entre o ano de 2001 e 2002,  a Warner Music  lançou uma Coleção remasterizada com 50 histórias da Coleção Disquinho. Não deu prá quem quiz meu bem! Em pouquíssimo tempo, logo após o lançamento, os mais de 10 mil CDs estavam esgotados. Mas agora, ao completar meio século de aniversário, espera-se que surja alguma novidade por parte das gravadoras. E que essa Coleção Disquinho, seja eterna na memória dos brasileirinhos e brasileirinas. E que venha o cinquentenário, o centenário... Enfim, Coleção Disquinho, uma obra prima da cultura infantil Brasileira.
No verso do disquinho vinha a relação das estorinhas já lançadas. 
Dic-4001 - A Formiguinha e A Neve (1960)
Dic-4002 - História da Baratinha (1960)
Dic-4003 - Festa no Céu (1960)
Dic-4004 - A Cigarra e a Formiga (1960)
Dic-4005 - O Soldadinho de Chumbo (1960)
Dic-4006 - O Chapeuzinho Vermelho (1960)
Dic-4007 - A Gata Borralheira (1960)
Dic-4008 - A Gata Borralheira (1960)
Dic-4009 - Pedro e O Lobo (1960)
Dic-4010 - Branca De Neve e Os 7 Anões (1960)
Dic-4011 - Branca De Neve e Os 7 Anões (1960)
Dic-4012 - Pinochio (1960)
Dic-4013 - O Patinho Feio (1960)
Dic-4014 - Cantigas De Roda 1 (1960)
Dic-4015 - Cantigas De Natal (1960)
Dic-4016 - Cantigas De Ninar (1960)
Dic-4017 - Os 3 Porquinhos (1961)
Dic-4018 - O Macaco e A Velha (1961)
Dic-4019 - O Rouxinol do Imperador (1961)
Dic-4020 - Os 4 Heróis (1961)
Dic-4021 - João e Maria (1961)
Dic-4022 - O Leão Cantor (1961)
Dic-4023 - A Bela Adormecida (1962)
Dic-4024 - Cantigas de Roda 2 (1962)
Dic-4025 - A Moura Torta (1962)
Dic-4026 - 6 Fábulas de Esopo (1962)
Dic-4027 - 2 Fábulas de La Fontaine (1963)
Dic-4028 - A Goela do Inferno (1963)
Dic-4029 - O Velho, O Garoto e O Burro (1963)
Dic-4030 - O Gato de Botas (1963)
Dic-4031 - Viva São João (1963)
Dic-4032 - Festival Infantil 1 (1963)
Dic-4033 - Festival Infantil 2 (1963)
Dic-4034 - A Bela e A Fera (1964)
Dic-4035 - Alice no País das Maravilhas (1964)
Dic-4036 - O Veado e A Onça (1964)
Dic-4037 - A Roupa Nova do Rei (1965)
Dic-4038 - O Lobo e Os 3 Cabritinhos / O Cabra-Cabrez (1966)
Dic-4039 - Ali Babá (1967)
Dic-4040 - Dona Galinha e Seus Pintinhos / O Burrinho Trólóló (1968)
Dic-4041 - História Do Brasil - Vol.1 (1968)
Dic-4042 - A Estrelinha Azul (1968)
Dic-4043 - O Macaquinho Travesso / A Galinha Ruiva (1968)
Dic-4044 - O Festival da Primavera (Aventuras Do Aracuã) (1969)
Dic-4045 - Os Coelhinhos da Páscoa (1970)
Dic-4046 - Dona Coelha e Seus Filhotes (1970)
Dic-4047 - As Aventuras do Saci-Pererê (1970)
Dic-4048 - O Leão e A Cobra (1970)
Dic-4049 - Picolé, O Bonequinho de Neve (1971)
Dic-4050 - O Violino e O Gato (1971)
Dic-4051 - A Boneca e O Palhacinho (1971)
Dic-4052 - História do Brasil - Vol.2 (1972)
Dic-4053 - A Flautinha Encantada (1972)
Dic-4054 - O Pintinho Quiquiriqui (1973)
Dic-4055 - O Pequeno Polegar (1974)
Dic-4056 - Briga no Galinheiro / O Macaquinho e O Totó (1974)
Dic-4057 - Era Uma Vez Uma Batatinha / As Empadinhas da Sinhá Marreca (1974)
Dic-4058 - O Bonequinho de Pão De Ló (1974)
Dic-4059 - Rapunzel (1975)
Dic-4060 - Como Nasceu Jesus (1975)
Dic-4061 - Hino Nacional / Hino á Bandeira Nacional (1975)
Dic-4062 - O Casamento Do Sapo (1976)
Dic-4063 - O Festival de Pipas (1976)
Dic-4064 - As Aventuras do Macaquinho / A Escolinha do Papagaio (1977)
Dic-4065 - O Bolo de Natal (1977)
Dic-4066 - Conto de Uma Noite de Natal (1977)
Dic-4067 - Os 3 Machados / Os 3 Desejos (1978)
Dic-4069 - Viveiro de Pássaros (1980)
Dic-4070 - Aladim e A Lâmpada Maravilhosa (1983)