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sábado, 22 de outubro de 2011

... E O TELEFONE TOCA!

Houve um tempo em que ter uma empregada doméstica, uma TV á cores, uma enceradeira Arno e... Um Telefone tocando! Ôôôxe... Era tudo que há!!! Só “os bem de vida” podiam.  Principalmente o Telefone. Sim, porque só quem tinha telefone em casa - na época - era funcionário do Banco do Brasil pra cima.  Telefone nas décadas de 60, 70 e 80 era sinônimo de uma vida “mais ou menos”. E poucas pessoas podiam ter um em casa. Questão de “status” para muitos... Sério! Tinha gente que colocava o “trimmmmm-trimmmmm” do telefone no volume máximo só para ter a certeza que a rua inteira iria escutar. Tô falando sério Caríssim@s! As linhas telefônicas eram compradas e “custavam os olhos da cara”. Existia até corretor pra vender e alugar as linhas telefônicas. Era um investimento e tanto. Tive uma “conhecida” que enchia a boca pra dizer:

- Eu tô é bem de vida, sabe... Tenho meu “empreguinho” no estado e mais “oito linhas” de telefone no meu nome. E, graças a Deus! Ta tudo alugada...
... E pensar que nos dias de hoje ninguém mais é dono de linha nenhuma, que todas as empresas de telecomunicação são privatizadas e que “portabilidade” se faz num piscar de olhos. É meu bem... O tempo não espera por ninguém, muito menos pra quem ficou na linha esperando o trem passar...
Enfim! Na minha época de estudante morando fora de casa... Telefone???  Ah!!! Só o do vizinho meu bem. Falo daquele vizinho porta-com-porta, gente boa e super educado. Um santo! Pois é... Agora imaginem um bando de estudantes presos num “apertamento”, longe de casa e absolutamente “lisos”. Então? Coitado do nosso vizinho. E pensar que além de nós - só no quinto andar - tinha mais quatro “apês” sem telefone... E o Nosso Santo Vizinho, querendo ser gentil, colocava o número à disposição. Mas tinha “gente” que não se tocava né... Alôôôu! O número do vizinho era apenas para casos de emergência, desastre, morte ou coisa parecida. Tendeu né? Nada de recadinhos e/ou namoricos bestas. Sei... Ledo engano!!! E quem dava ouvidos às regras e levava as recomendações a sério? Ninguém. Acho que fui o primeiro a dar o telefone pro colégio inteiro... Da 8 série “A” ao  1 ano “F” - todos e todas - sabiam o número do meu telefone, ou melhor, do número do telefone do vizinho. Um abuso total:               

- O senhor poderia chamar “Dhotinha” que mora aí do lado? É “Ana Teresa” colega de classe dele...

Duas ou três vezes ao mês, tudo bem. É aceitável. Mas quase todos os dias? Era de lascar... E no final ainda dizia:

- Obrigado seu “fulano” e desculpas pelo incômodo, tá?

E o Santo Vizinho, sem fazer cara feia, dizia:

- De nada. Precisando...

Mas isso não era o pior.  Tinha uma representante da Avon no apt. 503 - amiga da minha irmã até hoje - que se pendurava no telefone “alêio” do vizinho sem dó nem piedade:
- Peraíííí amiga... Fala devagar que eu tô anotando o pedido... É 01 Frasco de Toque de Amor; 01 talco Topaze e 02 desodorante roll-on Charisma, é isso? Ah! tá. E, olha!!! Tem uns produtinhos aqui que vão entrar na promoção. Todos ma-ra-vi-lho-sos... Me liga amanhã que te passo a relação. O preçinho tá ótimo visse... Até amanhã amiga.
Verdade seja dita! O que tinha de gente cara de pau que usava o telefone dos outros sem a menor cerimônia, “não tava no gibi”. E o pior é que muitas vezes se recebia ligações nas horas mais impróprias... O que dizer de um telefone tocando às 06:00 da manhã quando o dono da linha sequer tinha mijado, escovado os dentes e retirado as remelas dos olhos? O fim, né?! Durante o almoço e/ou jantar o telefone também tocava. E era no mínimo constrangedor... Pois ninguém gostava de mostrar ao vizinho o que comia. Vai que nesse dia o “rango” era arroz, ovo e ki-suco de uva.
Outro horário impróprio era o da novela. Meu Deus do céu! Na hora que Leôncio estava amarrando a “Escrava Isaura” no tronco o telefone tocava. Era o mesmo que reprimir o orgasmo na hora do bem bom. Agora! Irritante mesmo era vinte minutos depois que todo mundo apagava a luz, ia dormir e o Trimmmmmmmmmm do telefone disparava acordando todo mundo. Era o fim da picada! Qualquer ser humano estourava sua cota de paciência. E foi isso que aconteceu... Meu saudoso vizinho encerrou sua conta na TELPE e passou a usar os orelhões como todo mundo. Simples assim...
Os Orelhões do meu tempo eram todos amarelos... Depois é que ficaram azuis. Eles surgiram em escala de produção nacional no ano de 1972, pela Companhia Telefônica Brasileira (CTB). Nossa mãe! Como eu os usei... Ainda alcancei o tempo da ficha telefônica, nada desses cartõezinhos “frufru” para colecionadores. Eu comprava mesmo eram as tirinhas com dez fichas nos botecos. Eram fichinhas metálicas, redondas e com dois cortes no meio. Bastava colocar as fichas na fenda para deslizar, cair e depois dar linha. Cada ficha dava para três minutos de conversa... 
 As tão famosas fichas de telefone !
Ah!!! O pior era quando o Orelhão engolia a ficha e ficava por isso mesmo. Reclamar a quem? A ninguém, claro. O coitado do Orelhão é quem pagava o pato, levava tanta da porrada que acabava soltando a ficha. E mais, existiam “aquelas pessoas folgadas” que alugavam os orelhões, tiravam umas trinta fichas do bolso e passavam horas e horas namorando, conversando e sei lá mais o que... Nem se importavam com a fila que se estendia. Tempos outros, meu bem. Tempos outros! Uma pena que hoje os orelhões sirvam mais para os vândalos expressarem sua violência interior...  Infelizmente a ficha caiu de uma vez: Os orelhões estão com seus dias contados e vão sair de cena logo, logo... Celulares meu bem. Celulares!
Na minha casa, o telefone só chegou em 1980. Daí teve toda uma preparação... Minha mãe comprou logo uma mesinha para por o telefone. A cima, na parede, colocou um retrato da minha irmã caçula telefonando para ela mesma (aqueles das carinhas). Lembro dele até hoje. Falo sério! Ele era todo bege e possuía uma roleta transparente com 10 buracos em seqüência, um para cada algarismo (de 1 a 9 e 0). Bastava enfiar o dedo no buraco dos números desejados e girar o disco até o final. Depois se escutava um “barulhinho esquisito” e pronto...  Daí podia-se namorar, ligar pros amigos, ligar para o bate papo, disk amizade, ligar para as rádios... Ahhhh! Meu bem. Mas nem tudo eram flores assim. Minha mãe não era como meu saudoso vizinho... Era esperta! Colocou cadeado na giratória onde ficavam os números. Detonar a conta telefônica? Nem pensar... Essa estória é antiga. (RS!). Atualmente muita coisa mudou... Depois do telefone (doméstico e público) com disco giratório, vieram os teclados numéricos e agora, os digitais... E o que dizer dos celulares? Que quando surgiu, mais parecia um rádio da campanha do Exército Brasileiro. Quem não lembra do tijolão da Motorola que era colocado no cós das calças ou nas saias. Mais isso é uma outra história... Pois os telefones tocam, e como tocam!