Então é Natal meu bem... A data festiva mais celebrada no mundo inteiro e comemorada por nós - aqui no Brasil - da forma menos brasileira possível. Tô mentindo? É só o que vemos: Papai Noel, trenós, pinheiros, neve, pisca - pisca, chaminés, renas, avelãs, pinhão, amêndoas, nozes, duendes, Finlândia, Lapônia, Estônia e jingle Bells. Nada a ver! Pelo menos aqui no nordeste... Mas fazer o que né? Desde que eu me entendo por gente sempre foi assim... Tudo muito Glacial! Nesse ambiente gelado (brrrrrr!!!) construímos nossa identidade natalina. E que eu saiba, não podemos fazer mais nada. Falo por mim. Pois por mais que eu queira pensar que no mês de dezembro eu “moro num país tropical...” Hou, Hou, Hou. Não consigo. Em dezembro, o Polo Norte é aqui! Você abre a janela de sua casa e tudo esta enregelado de Natal. Lojas, casas, edifícios, praças, coisas e tal. E eu quero confessar: Me acostumei com tudo isso! Não vou mentir... O clima nórdico natalino tem o cheiro de mim mesmo quando pequeno. Fui criado acreditando que dezembro era o mês mais importante e mais gelado do mundo i-n-t-e-i-r-o; que o menino Jesus renascia todo 25 de dezembro numa manjedoura e que o Papai Noel era um velhinho “justo”e rico que saia por aí distribuindo presentes pra criançada. Isso sem falar que em dezembro existiam lapinhas, festas, missa do galo, ceia farta, roupa nova, show do Roberto, presentes, férias e o final de ano. Foi esse o clima natalino que ficou registrado, sedimentado e carimbado na minha mente e em meu coração. Agora não da mais para descontruir... Esta tudo entranhado dentro de mim! Somente a partir de janeiro é que vou cantar :“Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza!!! E em fevereiro, tem Carnaval...”(Jorge Ben Jor) E vamos combinar, vai... Clima gelado no Carnaval só o da cervejinha, né mesmo?
Definitivamente! Não existe época melhor pra ser criança do que o mês de Dezembro. Ah! Lembro-me com carinho dos meus primeiros natais... Assim que findava novembro era um alvoroço lá em casa. Tudo porque já estava na hora de montar a árvore de Natal. E numa única tarde enfeitávamos a casa com bolinhas coloridas, pisca-pisca, velas vermelhas, guirlandas, lapinha, pinhões (pintados de dourado), festões, bicos, fitas e algodão se passando por neve. Naquela época o Natal tinha mais magia, sei lá... Eu na véspera sequer dormia, ficava embolando na cama. Minha irmã caçula quando ficava ansiosa mijava na cama. E se mijar na cama já viu né? “Nadica” de presentes. Dormia de fraldas - tadinha - e, na marra. Mas valia tudo meu bem! Tratava-se do presente de natal... E vai que ela mija em cima do tão esperado presente? Pesadelo total! Enfim, a expectativa era enorme para acordar, olhar embaixo da cama e encontrar o presente. Lá em casa nunca existiu essa estória do Papai Noel dar presente pra nós. Sempre soubemos que nossos pais, tias e avós eram os presenteadores. O lema era o seguinte: Mereceu? Então ganha presente. Não mereceu... Um equívoco! Pois ganhei vários presentes e nunca fiz por merecer... Bom! Isto é uma outra história (rs,rs,rs...). Foi uma época realmente mágica! Passávamos a noite toda deitados no chão, brincando com nossos presentes e desejando os presentes uns dos outros… Ô tempo!
Todo final de ano minha mãe, juntamente com minhas tias, iam para o centro da cidade fazer as compras de natal e ano. E sempre nos levavam juntos (eu, meus irmãos e meus primos) pra escolher os presentes, comprar sapatos, meias, cortes de fazenda (pano) e roupas novas. E essas mesmas roupas iriam servir para todas as festas, aniversários, 15 anos e batizados que por ventura surgissem no primeiro semestre do ano que estava por vir. Shopping Center? Existia não meu bem. As compras eram feitas nas lojas ao longo das ruas comerciais. Pagamento com Cartão de Credito? Nem se escutava falar em Cartão de Credito. Era tudo na base do Crediário dividido em “suaves” parcelas com juros que custavam os olhos da cara. Existiam crises e mais crises econômicas meu bem... Tempos de inflação, FMI e dólar nas alturas. Tá pensando que as coisas eram assim, fáceis de ter. Nãããão! Tinha gente que abria crediário pra tudo. Até para pagar a prestação de um desodorante.... Hoje é tudo muito fácil! Pois se depender das financiadoras, e se agente concordar, elas parcelam até a vida no cartão da C&A meu bem...
Esse era o período que meus pais recebiam minhas tias, meus avós, meus primos... Tudo era festa. Daí ele mandava pintar a casa, limpar a fossa e ajeitar o telhado. O entra e sai de pedreiros e o cheiro da tinta tomava conta de tudo. Mas eu e meu irmão nos divertíamos assim mesmo... Principalmente na hora de retelhar o terraço pra tapar as goteiras. E lá estávamos nós, a espera dos entulhos que normalmente surgiam após a varredura... Bolas murchas, cabeças e braços das bonecas da minha irmã, bolas de gude, soldadinhos e índios de plástico, metade do time de futebol de botões e até dente de leite enganchado nas linhas de bordar da minha avó. Ô saudade grande! E depois de tudo arrumado, casa cheia, paredes pintadas e fossa limpa... Repito, tudo era uma festa.
A primeira coisa que meu avô paterno fazia quando o ano novo chegava, era trocar os calendários de farmácia pendurados na parede. Pronto! Era como se fosse um selo de garantia e esperança para o ano todo. Nesses calendários ela marcava o período de safra e entresafra. Meu avô costumava espalhar calendário pela casa toda... E depois minha avó vinha com o dela (calendário com todos os santos do dia) e pregava próximo ao oratório. Era ali, junto aos santos, que ela marcava suas missas, fazia suas promessas, seus pedidos e desejos para o ano novo. Ela sempre me dizia que promessas e desejos revelados não vingavam. Portanto, foi com ela que aprendi a não revelar os meus planos e desejos (mais secretos) para o ano novo. Só revelo meus desejos mais comuns e bizarros. Este ano, por exemplo, eu tenho dois desejos super bobos. Primeiro: Desejo que a garota Maísa do SBT cresça rápido... Pois já não agüento mais! Pelo amor de Jesus... E Deus me livre que ela termine como o eterno garoto Ferrugem, que até um dia desses estava na MTV, do mesmo tamanho e com a mesma cara... Não suportaria! E a Segunda é que esse ano tenha menos mulheres frutas. Já que sou sensível à frutose (rs!) Que foi! Falei Bobagem é?? Mas é isso mesmo... Só revelamos aquilo que nos convém. E eu confesso: Morro de medo de olho grande! Brincadeira...he,he,he.
Eu não sei o que dava (e acho que ainda dá!) nos adultos pra pensar que toda criança gosta de tirar fotos com Papai Noel. Ele podia, e pode, até ser bonzinho coisa e tal. Mas eu sempre achei Papai Noel um “saco” (desculpas! Tá, Papai Noel...). Quando criança eu não fazia diferença entre Papa Figo, Véio do saco e Papai Noel, para mim, eram a mesma coisa. Morria de medo e abria o berreiro ali mesmo, na cara do Papai Noel. E o pior é que mesmo aos berros minha tia insistia pra que eu sentasse no colo do Papai Noel pra tirar uma foto....Ôxe! Trauma Mortal. Lá em casa aprendemos a ver Papai Noel como uma espécie de boneco, uma figura emblemática do Natal e só. Algo típico pra época, mas que nunca foi um personagem bíblico ou santo católico. Eu, na minha inocência, cheguei a pensar que Papai Noel fosse um dos três reis magos... Mas minha avó sempre teve o cuidado de nos dizer quem era quem no evangelho. E sua maior preocupação era de dar crédito ao dia 25 de dezembro à quem de fato era de direito: O dia do nascimento do Menino Jesus!
Geeeente!!! Shopping Center em época de Natal é quase um “puxadinho” da casa do capeta. INFERNO TOTAL! Pois é... Fui forçado a entrar no Shopping e dar uma passada na ótica pra pegar meus óculos que estavam no conserto e... Mais nada. Andei alguns metros e desisti. Preferi ficar “cegueta” até o Natal terminar. E o que é pior, assim que entrei, e já sem paciência, fui obrigado a escutar pela milésima vez (só esse ano) a faixa número um do Cd de Natal de Simone: “Então é Natal...” Uma tortura né? E parece que o shopping e todas as lojas só sabem tocar essa música. E acreditem, ainda tive que enfrentar fila pra pagar o estacionamento com essa música na cabeça. Juro! Quis morrer. Principalmente naquela hora que Simone começa a gritar chamando por Hiroshima e Nagasaky. Definitivamente! Foi o fim da picada meu bem... Fiz uma promessa de nunca mais entrar num shopping nesse período. Só os desesperados se atrevem, eu? Nunca mais.
Ô Deus! Quanta saudade dos cartões de Natal recebidos pelos correios. A grande maioria dos cartões fazia jus ao espírito natalino. As imagens retratavam o nascimento do Menino Jesus, a lapinha, a manjedoura, os três reis magos, os animais... Era uma verdadeira tradição a troca de cartões natalinos. Hoje você recebe trezentos e vinte e sete e-mails enviados em bloco, e com poemas “alêius” que ninguém sabe de quem é. Todos cheios de frufrus e bichinhos animados brilhando... A Igreja católica que me absolva se eu estiver errado, mas o Natal em Cristo - infelizmente - vem perdendo a importância religiosa para os ocidentais. Só nós, os mais tradicionais, é que celebramos por direito esse que é o dia do Nascimento do Menino Jesus. Uma pena!
Apesar dessa onda “gelada” que nos acompanha há tanto tempo, nós temos um natal bem brasileiro sim. É só escarafuncharmos nossa cultura e encontraremos um natal festivo, com muita música, verão, zabumba, sanfona, saia de chita e danças. Estou falando do período que abre passagem para os folguedos dos santos reis. Quem nunca escutou falar do pastoril? Um bando de lindas pastoras que cantavam tomando partido e, disputando, umas com as outras, em favor dos cordões azul e encarnado. Tinha a mestra, a contra mestra e a Diana que não tinha partido. Eita tempo bom!!!! E viva o cordão encarnado... E viva o cordão azul! E vivas ao menino Deus! Esse é que é o natal do nosso Brasil. Né, amigo Paulo Patriota?
Sempre gostei de romper o ano em casa e depois ir a praia. E chegando lá, fazer uma oração, meditar e jogar flores ao mar pra Nossa Senhora/Iemanjá. Só que isso foi há muito tempo atrás... Antes de invadirem nossa praia. Certa vez eu fui jogar flores pra Iemanjá na praia de boa viagem e dei de cara com um show de Elba Ramalho... Juro que me espantei!!!! Assombrei-me com ela (Claro!) e com o montão de gente que passou a invadir as praias de Recife na noite da virada de Ano. Poxa! E eu que gostava tanto de ver as oferendas na areia, com direito a flores, perfume de alfazema, champanhe sidra e leite de rosas pra Iemanjá Rainha. Tudo dentro daqueles barquinhos comprados no Mercado São José... Ei! Que foi? Sou eclético nas minhas crenças e daí? Passeio por todas as religiões... E eu adoro rituais religiosos, simpatias, crendices. Afinal tudo pode acontecer no ano que se aproxima. E eu sou o tipo da pessoa que curte essas “superstiçõezinhas” de ano novo : Saltar sete ondas; colocar 03 caroços de romã dentro da carteira; vestir cuecas novas na cor branca; tomar banho de arruda; comer 12 uvas verdes; dar 03 pulinhos; dançar ao redor de uma árvore e tantas quantas aparecerem... Muita coisa da certo. E Lóóógico, outras não. Essas que não dão certo eu despacho num montante só, feito um ebó pesado nas encruzilhadas da vida. Feliz Natal e Feliz Ano Novo meus Caríssimos e minhas Caríssimas... Um beijo enooorme!
16 comentários:
Hou, hou, hou, Dhotta, feliz Natal!
Muito mais muito obrigada mesmo pelo seu carisma, pela sua graça(não é o seu nome He,He,He) é pelas suas coisas, suas histórias engraçadas que tanto nos faz rir, mas sobretudo pelo menino que habita em ti, que é generoso, sincero....
Grata, por ter colocado o link do meu blog no teu blog de catrevagens mil que nos remete ao passado ora de sofrimento, ora de alegrias que são às nossas vivências, e assim é a vida de momentos alegre e tristes.
Menino tu não imagina como no passado eu sonhei com uma boneca baby, com uma determinada calça Jean que na época não tinha, hoje tudo é mais fácil, e deve ser por isso que a turma não dá valor tudo virou descartável.
Confesso que não gosto da figura de papai Noel, cheguei sim acreditar em tal figura, e por isso sofri um pouco à espera de um presente que nunca chegava(Meus pais coitados com sete filhos nem pensavam em presentes ), assim como também compartilhei tristezas com outras crianças na mesma situação que eu, me lembro especialmente de uma, que ao procurar o seu presente debaixo da cama nunca encontrava, e ainda era zoada, pois o que lhe diziam era que o papai Noel havia deixado debaixo da cama dela, uma boneca, porém como a boneca era de açúcar, e como ela tinha mijado na cama a boneca havia derretido, imagina o trauma que esta criatura deve ter hoje de papai Noel.
Portanto, chega de Papai Noel, vamos celebrar o nascimento do menino Jesus.
Dhotta, é verdade, menino esta época, o povo fica numa euforia louca, eu também corro dos shopping, mas tive que ir ao hiper de casa forte – e o povo lá estava disputando o estacionamento.
Obrigada caríssimo por nos blindar com este texto maravilhoso.
Um natal de paz e harmonia para todos nós.
E, comemore o nascimento do Menino Jesus juntos dos Teus, Dona Bernadete, Côlinha, Camilo, e Betânia, Dona Maria Sooza, Udo e todos os membros desta tua maravilhosa família.
Beijos.
Feliz Natal!!!
Querido amigo era assim mesmo e algumas coisas continuam e outras mudaram muito. Ficamos com as lembranças (ainda bem que as temos) e vamos tentando nos adaptar ao que for possível...se for...rs.
Sempre bom ler suas crônicas.
Desejo que seu Natal seja feliz e alegra junto as pessoas que você ama e com uma pitadinha de magia que sempre faz bem.
beijos
Angela
Dhotta
Estou simplesmente encantada com tua maneira de descrever as passagens de tua vida (nossa vida, também vivi muita coisa que contas )e orgulhosa de ter um amigo assim!!!!!
Que o verdadeiro sentido do Natal apareça!
Beijoquinhas de Feliz Natal,
Linda
Meu comendador,tinha sumido não da tua graça,visse? Sempre com as retinas fixas por aqui e sonhando ver,um dia,tuas "prosopopéias" reunidas num livrão para gáudio dos que te amam.
Menino,estive,no final de novembro,no Shopping Manaíra,o mais "in" de João Pessoa e,apesar de não possuir ar condicionado central,me senti tiritando por tanta neve algodoada. Um símbolo sequer,"piquininim" que fosse,da Natividade,nem...
Ri muito com Bamba a contar-me novos causos de Colinha. Disse a minha mana que se estivesse contigo,sua irmã (nossa) e ela,numa moita do conversê,teria de ficar mais próximo à latrina,porque iria me mijar de tanto gargalhar a qualquer instante.
Só Você mesmo para trazer à luz os Natais tupiniquins vigentes,com a verve atemporal de tua alma infante e absoluta,e,sobremaneira,a memória sépia e natalina da Itapetim de antanho.
Um 2011 do tamanho do teu coração!
Beijabraço.
Amei tudo que li nesta crônica natalina.
Todas as bênçãos do Menino Deus para você e sua família. Que nunca lhes falte, alegria, saúde e paz.
Um beijo, meu amigo. Feliz Natal!
Obrigado amigo ... um 2011 GENIAL para todos nós ...
bjux
;-)
Você nos encanta sempre com suas memórias... Feliz Ano Novo querido!
velhos e bons tempos qdo as coisas eram bem mais naturais, espontâneas, criativas ...
Bjão querido amigo
;-)
AMEI!!!!!!!!!!!!! TUDO!!!!!!!!! UM FELIZ ANO NOVO, DEAR FRIEND!!!!!!!!
Adeus, ano novo!
Marcos,
Maravilhoso seu texto. Você começa achando grande assim que vê, mas depois as palavras e a forma como escreves desliza suave. Dá vontade de quero mais.
Que lindo o teu Blog. Como é deliciosa a leitura dos teus textos. Amei!!! Feliz 2011, voltarei aqui outras vezes. Um abraço, foi um prazer conhecer-te.
Que lindo o teu Blog. Como é deliciosa a leitura dos teus textos. Amei!!! Feliz 2011, voltarei aqui outras vezes. Um abraço, foi um prazer conhecer-te.
Obrigado pela carinhosa mensagem. Sim, eu já andava com saudades também!!!! Feliz Ano Novo!!!!!!
Desejo um 2011 cheio de alegrias para você! Beijos floridos da Ursa
Muito grata, Marcos!
Você é um gênio!
Adorei. Curti cada frase, cada história, cada lembrança, cada pensamento... e ri muito.
Parabéns! O Caríssimas Catrevagens é maravilhoso.
Socorro Melo
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