Os Cadernos de Receitas - da minha tia Maria Sousa Lima - são para mim relíquias de família. Eles são os guardiões dos cheiros e dos sabores da minha infância. São testemunhos vivos de um passado culinário que permanecerá para sempre em minha memória. A lembrança de alguns pratos ainda me fazem salivar...E dá até para sentir o cheiro, pode?
Minha tia foi educada em colégio interno comandado por freiras “nervosas” e severas. E as alunas – em plena década de 50 – eram preparadas para serem “Amélias do Lar”, pois além das declinações do latim, o que se ensinava na época era: “Lugar de mulher é na cozinha! Fazendo comidinha para engordar o maridinho e os filhos...” Essa lição eu acho que ela não aprendeu direito. E se aprendeu, foi pela metade. Pois continua solteira até hoje. No entanto na culinária... Ah! Ela engordou todos os sobrinhos com suas receitas maravilhosas meu bem...
Todas as receitas eram escritas à mão com canetas tinteiro. Depois ela ilustrava as páginas do caderno com figuras dos “pratos já prontos” recortadas de revistas. Tia Maria era tão caprichosa que ao copiar uma receita, ela colocava ao lado a procedência e/ou nome da pessoa que a repassou. Tipo: “Esta receita de Arroz Doce quem me deu foi Carminha Meira em 21 de maio de 1953...” O engraçado é que ela também inventava receitas e dava o nome de algum artista da época: “Rocambole a la Wanderléia”; "Pudim de Ameixa a la Sérgio Cardoso”... Hoje as páginas dos seus Cadernos de Receitas amarelaram com o tempo, os segredinhos culinários foram desvendados e as marcas de gordura nas folhas do caderno já sinalizam o correr dos anos... No entanto, a Torta de Abacaxi; o bombocado; o pão-de-ló; o bolo de massa de araruta; o bolo engorda marido; a torta folhada; os canudinhos; o Pudim a la Sérgio Cardoso... Nunca envelhecerão com o tempo. Tudo isso estará eternizado em minha mente e em meu coração.
15 comentários:
Olha só Marcos, que delícias (exatamente) de lembranças! Eu me lembrei da minha tia Maria e de suas receitas, qualquer dia vou falar dela.
Eu tenho as minhas lembranças também guardadas com cheiros e sabores, canções e climas. Adorei relembrar meus tempos de colégio de freiras (final dos anos 70), mas eu dei trabalho pras coitadas por jamais aceitar ser Amélia...
Beijo, adorei o post!
Oi Dhotta,
Aí, fiquei com a boca cheia d'água!
Que delícia essas receitas...
Uma relíquia de caderno.
Linda e saudosa postagem, parabéns!
Beijos :)
Tão terno, tão bonito você lembrar e escrever do caderno da tia...
Que fez me lembrar das mulheres mais antigas da família e que deixaram o gosto de "quero mais"...na culinária e no jeito delas...
Muito bonito isso assim.
Sabe o que eu acho mais legal nesses antigos cadernos de receitas? Que eles nos remetem diretinho pros dias em que as receitas foram preparadas. Sempre trazem uma marquinha, seja um pinguinho de gordura, uma manchinha de molho, enfim, provas incontestáveis de tempos felizes e deliciosos. Que lembrança gostosa! Beijoca!
Dhotta,D.Maria é uma pessoa muito querida pra mim.Lembro bem dela também na biblioteca da Escola (ETT)nos incentivando a ler livros,contando uma parte pequena dos mesmos para despertar o gosto pela leitura. Cheguei a ganhar um broche lindo dela (uma joaninha)por ter sido a aluna que mais leu durante um período...
Beije-a por mim.
Um abração pra vc.
Dhotha, lindo esse carinho especial que você tem pelas suas catrevagens! Só em saber que Maria Souza faz parte da nossa história de vida em Itapetim, a leitura desta postagem passa a ser algo emocionante. Conhecendo-a de tão perto, como a conheço, dá para imaginar quão organizado é este caderno de receitas.Também posso constatar que dificilmente se encontra, nos dias de hoje, esse gesto de amor para com a preparação dos alimentos da família. Até parece que não temos mais aquele "lar", parece que temos apenas "casa" para voltarmos, depois de um dia cansativo de trabalho. Infelizmente é o preço que pagamos na selva de pedra em que vivemos, porque optamos por fazer parte do mercado de trabalho.Horários desencontrados, filhos para um lado, mãe e pai para o outro, self-service abarrotados de famílias que, diferentemente daquela nossa suadosa época,tentam "engolir" para matar a fome.Linda esta postagem, trouxe-me saudades, muitas saudades!
Amigo Dhotta, você me faz rir e também me faz mergulhar num mar de emoções. Ao ler esta postagem fiquei com os olhos marejados... Lembrei do caderno "igualzinho" que minha mãe teve um dia. obrigado pela emoção. Este espaço me faz um Beeeeem!!!!!!!
Maravilhosa lembrança... Na minha casa também tivemos um caderno desses. E foi como vc mesmo falou...Dá para lembrar do cheiro de uma época onde não tinhamos a preocupação com nada diet, tudo era feito com amor e muita banha e gordura...KKKKKKKKKKK. Um abraço Marcos Dhotta.
Que capricho de caderno! Merecia até virar livro, desde que impresso com a letra original da Tia Maria!
Nada como lembranças gastronômicas para nos remeter a épocas tão gostosas!
Abs.
Rapaz, deveria oferecer à alguma editora para publicação. Ou ao menos, publicar algumas receitas aqui no Caríssimas Catrevagens.
Na minha cidade natal existe até hoje uma ordem de freiras, a qual não me lembro mais o nome, mas lembro que são verdadeiras mestras nas artes culinárias que comercializam seus produtos até hoje. É um esquema meio fundo de quintal, mas faz muito sucesso na cidade.
Um abraço!
Rapaz, vou aproveitar esta sua sugestão e um dia desses fazer um post sobre o caderno de receitas da minha mãe que tem a história da minha caligrafia.
Seu texto é tocante e deixa a gente lembrando de antigas receitas que mães, tias, avós faziam para toda a família.
Carpe Diem.
Mas que preciosidade este caderno, cheio de vida, lembrancas, cheiros (nossa mais longa memória, sabia?). Uma maravilha!!!!!!!
P.S. te coloqeui la nas "Tertúlias" entre os Blogs que sigo, OK para voce?
Oi Dhota,
Muito,muito lindo este caderninho com letra caprichada cheia de voltinhas,bem bordadas.Imagino as guloseimas e o pecado da gula bem alimentado.
Você nem imagina as lembranças que vieram me acordar com muito carinho.
Senti o cheiro de pão quentinho que minha avó fazia e eu ajudava a enrolar e colocar a goiabadinha dentro.As especialidades da família...nossa história.
Caríssimo Dhota você e´um ser muito especial,guardião das coisas sagradas.
Querida querubim espera a tua visitinha.
Beijos,
Cris
oi amigo, gostaria de copiar algumas receitas do caderninho de sua tia, mas as imagens saem tão pequenas, não dá pra ver direito. Que pena!! Adorei o blog!! Bem diferente.
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