“Todo lar que se preza tem que ter
flores espalhadas pelos quatro cantos da casa (...) Mesmo que sejam flores de
plástico”. Assim pensava minha saudosa avó Maria... E assim - ainda pensam -
minhas tias, minha mãe e minha irmã mais velha. Só que esse negócio de “muito
Jarro” e “muita flor de plástico” me da uma agoniaaaa. Sei lá... Gosto de tudo
ao natural. E, claro, sei que nem sempre podemos ter arranjos naturais em casa,
mas é que desde pequeno convivo com jarros e mais jarros cheínhos de flores de
plástico. Na casa da minha mãe, bem como, nas casas das minhas tias, avós e
amigas da minha mãe, sempre havia um jarro com flores de: Plááástico! Pareciam
de verdade, mas não eram. Nem se mexiam e muito menos tinham cheiro. Minto!
Tinham cheiro sim... Tinham o cheiro das bonecas da minha irmã. Falo das
Bonecas de: Plááástico! Tipo Calungas, Wanderléias e tal... Aquelas bem “póbi”
que se vendia em feira livre!!! Lembrou? Isso mesmo... Aquelas que soltavam os
braços, as pernas, a cabeça e ficavam cegas dos dois olhos em apenas uma semana
(... mas isso é uma outra história, depois eu conto!).
Na casa da minha avó tinha jarros de “flor” na sala de estar, no canto da parede, em cima do centro (... muitas vezes o jarro tinha que combinar a todo custo com o cinzeiro... e já viu, né?!). Havia também flores no terraço, no vão de entrada, em cima disso, em cima daquilo... Enfim, “flor” pra tudo quanto era lado. Mas todo esse exagero de flores tinha um preço meu bem... Vocês já imaginaram um lindo arranjo de margaridas de plástico (branquinhas, branquinhas) todo pipinado de pontinhos pretos? Imaginaram mesmo... Pois é, Acertaram. Bosta de mosca! Nunca vi um lugar pra juntar tanto côco de mosca quanto em flores de plástico. Definitivamente, moscas e muriçocas moram, dormem, transam e fazem caca nelas... Um castigo! Mas a trupe lá de casa não queria nem saber... Sexta sim e sexta não, as flores eram lavadas. Pétalas, folhas e haste (de ferro dobrável) eram limpas. Minha avó fazia isso na maior paciência do mundo... Saudades de sua delicadeza!
Era um domingão bem sossegado... Lá pelos idos anos 70. Casa do meu vô Albino, e a família toda reunida em frente a TV. Minha avó sentada na cadeira de balanço bordando e minha mãe cochilando no sofá. Tia Dagmar sentada com os braços encostados na mesa, esperando o resultado da loteca. E toda a meninada sentada no chão. Concentração total na TV. Tudo na mais perfeita calmaria. Quando de repente... Do NADA! Só se escuta o estrondo: “Tibufo” e depois...“Tebeife”!!! E num é que minha tia Dagmar, sem mais nem menos, sentou a mão no jarro de louça da minha avó! Pense num murro bem dado... Foi pedaço de louça, areia e “flor” de plástico voando pra tudo quanto era lado. Todo mundo correu da sala com medo... Ela só podia estar louca pra fazer um negócio daqueles! Ninguém tava entendendo era nada... E ela só fazia gritar. Depois saiu desabotoando a blusa, botando a mão por dentro dos peitos, puxando a saia pra baixo... Uma marmota sem tamanho. E o furdunço só terminou quando meu avô entrou na sala e falou sério:
- Era só o que me faltava, Dagmar, NUA! Tirando a roupa na frente dos meninos... E vamos parar com esse circo agora!
Somente depois da presepada é que ela veio contar que a culpa foi de uma lagartixa branca. Pode? Diz ela que a “nojenta” caiu lá de cima das ripas da telha bem no meio dos peitos dela. Disse ter sentido a danada passeando por entre os peitos e depois escorregando pras coxas... Uma vergonha eterna para ela! Pior fui eu, aos seis anos, ter que assistir o strip-tease da minha própria tia... Traumatizante! Eu só tive pena mesmo da minha avó... Tadinha! Saiu juntando as suas amadas flores de plástico espalhadas pelo chão. Onde é que foi parar a lagartixa? Ora! Me poupem...
As flores de plástico não morrem! Os Titãs tem razão. Eu, quando criança, sempre via um jarrinho bem velho, cheio de flores desbotadas que ficava em cima de um buffet anos 50, todo em angico preto. E para minha surpresa, ontem, eu encontrei esse mesmo jarrinho de flores enfeitando o oratório da minha saudosa avó. Achei tão delicado o fato que resolvi fazer esta crônica memorial em sua homenagem... Um beijo saudoso com direito a todas as flores de plástico do mundo.
“Há flores cobrindo o telhado
E embaixo do meu travesseiro
Há flores por todos os lados
Há flores em tudo que eu vejo
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem
Flores
Flores
As flores de plástico não morrem”
13 comentários:
Quem naquela época de ouro não teve em sua casa um jarro com flores de plástico nean? rs
agora! o me fez mijar aqui agora foi a história da lagartixa branca ... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
bjux
;-)
Nem as lembranças das pessoas que amamos morrem. E não importa o que elas amem a gente na saudade ama também. Um viva as flores de plástico e as lagartixas brancas.
beijos
Meu amigo querido,conterrâneo e contemporâneo:
As flores de plástico não morrem mesmo,basta ler tua postagem para chegar a tal conclusão. E se fenecessem,tu saberias ressustá-las com o vigor memorialístico de que és proprietário: mesmo não tendo cheiro,perfumaste-as no teu resgate "catrevagístico".
Abração.
Marcos,
Isso não se faz! Estou rindo até agora imaginando a cena da lagartixa tarada. KKKKKKKKK. Você é impagável! Uma mistura de delicada de lembrança, humor e saudades...
Um buquê de rosas de seda pro seu talento amigo...
Dhottaaaaaaa... KKKKKKKKKK...
Essa foi demais. Lagartixa branca passeando "nas partes" íntimas de tua tia. Maravilhoso o texto! Quando é que você vem aqui em afogados? Um beijo.
Flores de plástico podematé não morrer, mas matam de breguice e de ácaros e mofo que delas emanam com o tempo... Mas só você mesmo, meu caro, para fundir o saudosismo daqueles bons tempos com uma engenhosa reminiscência cômica de sua tia, rs! Tadinha da lagartixa!
E quem não se lembra de Sylvia Kristel, não é mesmo? Uma pena que a série "involuiu" para apenas uma participaçãozinha dela ao lado de George Lazemby (007 esquisitão num só filme) - afinal, ela já estava velha e tinha que passar o bastão para as novinhas... Mas daí a Emanueel ir até para o Espaço Sideral... Rs. Abração!
Que saudade e alegria você nós propociona com suas memórias narradas de uma maneira única, adoro vim aqui, maravilha tudo que escreves..
Um buque de Aalfazema(naturais) da Toscana para você...
Ana
Marcos passei para conhecer seu blog ele é muito maneiro, espetacular com excelente conteúdo você fez um ótimo trabalho desejo muito sucesso em sua caminhada e objetivo no seu Hiper blog e que DEUS ilumine seus caminhos e da sua família
Um grande abraço e tudo de bom
Ontem passei por aqui e vi o título da tua postagem, aí fervilharam na minha memória, antes de ler, tudo que escreveste, exceto o caso da lagartixa de Danda ...rsss
Ah! malditas moscas que deixavam para nós a incubênca de lavar as tais flores toda sexta feira. O jeito que tu descreves as cenas ... Meu Deus! Parece um filme, a gente vê tudo, até a situação de Danda, sem roupa, descabelada e, Seu Albino esbrafejando ...
Linda Dhotta! Linda demais a tua postagem, eu me senti na casa dos meus pais,nas décadas de 60-70, rodeada das tais flores de plástico e ouvi os xingamentos da minha mãe com as moscas "cagoninhas".
Um beijo,amigo, e obrigada por me trazeres lembranças tão caras.
Dhotta, meu amigo, você é um teatrólogo. Tô eu aqui rindo e imaginando a cena, até por conheço os personagens mencionado por ti.
Menino, tenho uma história com flores de plásticos: Certa feita fiz usos das danadas para bater em um dos meus irmãos que estava me zoando rsrs nada edificante, né? não recomendo.
Enaide Alves.
Oi Dhotta,
Criatura, vc me sai com cada uma, hein? ADORO!!
Fui numa casa semana passada e dei de cara com um jarrão na mesa...fui toda animada, pois também sou adepta de flores naturais, se não tiver é melhor ficar sem nada mesmo... Enfim, me empolguei à toa... as flores eram de plástico ¬¬ Que lástima!!
Cheiro de boneca da feira kkkkkk, morri... lembra daquelas que pareciam índias, que o cabelo caia? hahahaha, a roupa era um trapo, olho pintado...kkkkk
Aqui em casa mãinha nunca gostou de flor artificial, mas na casa de minha avó paterna, aí em PE tinha muitos jarros, e pior nem sempre as flores eram lavadas, ficavam "decoradas" com a arte das moscas hahaha
Dhotta, ri aos baldes com o furdunço estrelado por tua tia e a lagartixa, contei pra mãinha e ela quase morre de rir, disse a ela que ainda sonho com um livro de suas crônicas familiares, aí sim ela vai poder se deliciar lendo. Pense nisso! :)
Tenho certeza que sua avó, que deve estar num santo lugar, amou a crônica. Meu amigo, você como sempre de uma delicadeza e sensibilidade ímpar, parabéns por mais essa bela postagem.
Ahh, ia esquecendo...ontem li O Quinze de Rachel de Queiroz, lembrei muito de você e comentei com Lua: estou lendo e só lembrando de Dhotta! É um livro tão poético, acho que é por isso...
Beijos para vc e um abraço bem apertado :]
Acho que toda casa tem flor sem ser natural. Não diria de plástico, mas de tecido, que realmente parece verdadeiro. Mas as naturais são muito mais bonitas, cheirosas e agradáveis. Gostei do seu jeito de escrever. Lembranças eternas e lagartixa. Amei! Grande abraço.
Oiii !!!!
Nssa vc nem sabe o quanto de flores de PLÁÁÁÁSTICO eu tenho em casa !!!
Todas guardadas pq minha gatinha come tudo hahaha !!
Beijos
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